Diante de centenas de apoiadores reunidos em frente a uma estação de trem nos arredores da capital japonesa, Sohei Kamiya, líder do partido nacionalista Sanseito, reforçou críticas contra o aumento da população estrangeira no país. A cena foi marcada por aplausos efusivos de simpatizantes e protestos de opositores, que o acusaram de racismo.
Embora ainda pequeno, o Sanseito conquistou avanços significativos nas eleições parlamentares de julho. A plataforma de Kamiya, baseada no lema “Japoneses em Primeiro Lugar”, tem como pilares o antiglobalismo, a rejeição à imigração e o conservadorismo social. O movimento ganha força às vésperas da escolha do novo líder do Partido Liberal Democrata (PLD), que deve assumir como primeiro-ministro.
Populismo em meio à crise econômica
O discurso anti-imigração tem atraído setores da população japonesa insatisfeitos com salários estagnados, alta no custo de vida e perspectivas de futuro incertas. “Kamiya está dizendo em voz alta o que muitos pensam, mas não têm coragem de expressar”, afirmou Kenzo Hagiya, um aposentado presente no comício.
O crescimento desse tipo de retórica ocorre em um momento de contradição: o Japão, que enfrenta rápido envelhecimento populacional e queda na força de trabalho, precisa cada vez mais de estrangeiros para manter sua economia. Em 2023, a população estrangeira atingiu 3,7 milhões de pessoas — um recorde histórico, mas ainda apenas 3% do total de habitantes.
Oposição à imigração em alta
Apesar da dependência crescente de trabalhadores estrangeiros, inclusive em setores como indústria, agricultura e pesca, o PLD, partido no poder, também passou a defender medidas mais restritivas. Todos os candidatos que disputam a liderança neste sábado prometeram políticas mais duras em relação à entrada de imigrantes.
Entre eles está Sanae Takaichi, ex-ministra e ultraconservadora, que ganhou notoriedade por declarações polêmicas contra turistas estrangeiros em Nara. Ela justificou seu posicionamento como reflexo da “ansiedade e raiva” de parte da população.
Preconceito persistente
A questão migratória no Japão é marcada por tensões históricas. Coreanos e chineses foram alvo de discriminação desde o período colonial, e ainda hoje estrangeiros enfrentam dificuldades no país. Casos de preconceito contra curdos e vietnamitas foram relatados recentemente, incluindo acusações injustas nas redes sociais e dificuldades no mercado de trabalho e na moradia.
Apesar disso, especialistas alertam que sem uma política de imigração mais aberta, o Japão pode enfrentar sérias consequências econômicas. Um estudo da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) estima que o país precisará de 6,7 milhões de trabalhadores estrangeiros até 2040 para sustentar crescimento econômico mínimo.
Sanseito e o futuro político
Fundado em 2020, o Sanseito cresceu principalmente por meio das redes sociais, impulsionado por discursos revisionistas e teorias conspiratórias. Kamiya já declarou inspiração nas políticas antiglobalistas do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e mantém contatos com partidos da extrema direita europeia.
Com planos de lançar mais de 100 candidatos em futuras eleições, o Sanseito busca ampliar sua base e consolidar-se como força política relevante no cenário japonês — em um país que, entre a necessidade econômica e a pressão social, continua dividido sobre o papel dos estrangeiros em seu futuro.