Tóquio – Você entra em um pet shop e se encanta com os filhotes de cães ou de gatos ou talvez visite um abrigo de animais e se apaixone ao ver os pets disponíveis para adoção.
É neste clima que muitas pessoas decidem adotar ou comprar um “filho” de quatro patas, mas em muitos casos, não há a consciência de que o animal de fato se torna um membro da família ao levar para a casa. Muitos tomam a decisão sem o pensamento de longo prazo e a consideração de que o animal pode viver por 10 ou 20 anos e precisará de um comprometimento do dono durante toda a sua vida.
Foi com este intuito que o Conselho de Publicidade do Japão (AC Japan) e a Associação de Proteção Animal do Japão (JSPCA, em inglês) produziram um comercial intitulado de “Este amor à primeira vista só causa incômodos” (Sono Hitomebore, meiwaku desu).
O comercial começa com um casal em um pet shop, encantado por um cachorrinho. O vendedor diz que o filhote é perfeito para eles e os dois, muito empolgados, decidem comprar. O homem então diz que está apaixonado e uma voz alerta de que este amor à primeira vista, na verdade, só causa incômodos.
A mensagem principal é que não adianta se apaixonar pelo filhote na loja, levar para a casa e um tempo depois, decidir que não quer mais. Isto causa diversos problemas sociais, para o animal que fica ao relento e as instituições de resgate que acabam sobrecarregadas e não dão conta de salvar todos os animais.
E quando não há quem se responsabilize pelo pet, o caminho é o Controle de Animais (hokenjo), onde os animais sem donos acabam sacrificados.
O comercial com a mensagem impactante foi muito bem aceito. De acordo com uma reportagem do Oricon News, muitos internautas comentaram que a campanha devia ter sido veiculada antes e que finalmente algo do tipo foi elabadorado para alertar sobre essa questão.
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Adoção e abandono de pets na pandemia
De acordo com os dados da Associação Japonesa Pet Food, em 2019, 404 mil cães foram adotados ou comprados e em 2020, o número subiu para 462 mil. Já o registro sobe gatos aumentou de 416 mil em 2019 para 483 mil em 2020. O indicativo mostra que houve muito interesse por pets na pandemia.
Os dados foram os mais elevados dos últimos cinco anos e a motivação para criar animais durante a pandemia foi o fato de que muitas pessoas começaram a trabalhar remotamente e a passar mais tempo em casa.
No entanto, a rotina foi voltando ao normal com a baixa dos casos de coronavírus e o abandono aumentou na medida em que as pessoas voltaram a trabalhar fora de casa como era antes da pandemia.
Entre as desculpas, muitos que compraram ou adotaram disseram que agoram estavam ocupados e não podiam mais cuidar do pet ou que não se adaptaram à companhia e nova rotina ou porque o pet faz barulho e sujeira.
Akihiro Hirose, líder da Associação de Proteção Animal do Japão, comentou sobre a questão e criticou o negócio dos pet shops, que agrava o problema por atuar na comercialização de animais como produtos.
“Tem aumentado o pensamento sobre ter cães ou gatos na família, mas muitas pessoas vão atrás dos pet shops quando querem um animal de estimação. Os pets são tratados como produtos e enfiados em pequenas jaulas e há uma incoerência nisto”, comentou.
Enquanto os abrigos se esforçam para encontrar donos aos animais abandonados, pessoas que querem animais vão atrás da compra de filhotes.
“Cada vez que as leis de proteção animal são revisadas, ficam mais severas. Mas se não houver consciência tanto do lado que vende quanto do lado que compra, não há muito o que fazer para resolver os problemas”, apontou.