Kagoshima – A longevidade é um tema que chama atenção e quando o assunto é idosos com vida longa, o Japão é referência. No mundo, há pelo menos cinco localidades conhecidas como “zonais azuis”, onde há um alto número de idosos com idade avançada ou centenários. Nesta lista está a ilha de Sardenha, na Itália e Okinawa, no sul do Japão.
Mas viver muito não é o mesmo que viver bem e com saúde. Uma reportagem da revista semanal Gendai trouxe uma questão: e se fossem definidas as “super zonas azuis”, onde além de viver muito, há poucos casos de demência e outras doenças? Neste caso, será que alguma outra região japonesa entraria na lista?
De acordo com a estimativa do governo japonês, em 2025, 1 em cada 5 idosos com mais de 65 anos deve apresentar algum grau de demência. O Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar Social investigou a incidência de casos em cada uma das 47 províncias e divulgou um ranking surprendente.
A porcentagem de idosos com demência em Kagoshima é de 1,37%, a mais baixa do país. A segunda mais baixa é Nara, na região de Kansai, com 1,44%. As duas províncias apresentam menos da metade dos casos de Shiga, que ficou no topo do ranking com 2,99% dos idosos locais.
Mas o que há de tão especial em Kagoshima e Nara? Repórteres da Gendai foram até a província no sul do país para descobrir o que pode estar contribuindo com o bem-estar dos idosos. Uma das constatações foi o estilo de vida muito ativo e social, com atividades ao ar livre e prática de esportes mesmo após os 80 anos.
Nas duas províncias, foi possível identificar uma forte cultura de convívio em comunidade, grupos de voluntários e atividades locais.
Embora seja difícil afirmar que esses fatores são a causa direta da baixa taxa de demência, é claro que um estilo de vida ativo e social pode ter um impacto positivo na saúde física e mental dos idosos. O exemplo de Kagoshima e Nara mostra que, com a sabedoria e os esforços adequados, uma vida saudável e agradável na velhice é possível.
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A prática de esportes entre idosos
Kagoshima é a província com mais participantes de golpe e gateball no Japão. Reprodução / Gendai.
Os repórteres que chegaram em Kagoshima para investigar, logo ficaram curiosos. Eram 8h30 da manhã quando, após caminhar cerca de 10 minutos pela rua que se estende a partir da estação, eles ouviram vozes dizendo “foi ótimo!” ou “falhei!”, vindas de algum lugar. Quando olharam na direção das vozes, cerca de 20 homens e mulheres estavam se divertindo no campo de golfe dentro de um parque no centro da cidade.
Ao observá-los à distância, eles continuaram jogando sem quase nenhuma pausa até por volta das 10h da manhã.
Os repórteres foram conversar com os participantes quando o jogo terminou e se surpreenderam com as palavras de Masaru Hanada, um homem de quase 80 anos que vive na cidade de Kagoshima e pratica o esporte com bastante frequência.
“Eu vou fazer 80 anos este ano e minha colega tem 93 anos”, disse ele, apontando para a idosa ao lado. “Nos encontramos neste parque três vezes por semana e jogamos golfe das 8h30 às 10h. Somos membros do clube de idosos da região, o Nishida Koseikai. Temos pessoas de 60 a 90 anos e participamos de um torneio uma vez por mês”, explicou.
A província de Kagoshima é, na verdade, a número 1 no Japão em termos de número de praticantes de golfe e “gateball”, um esporte japonês similar ao croquet. Acredita-se que muitas pessoas que se dedicam a esses esportes contribuem não apenas para o fortalecimento físico, mas também para o fortalecimento cerebral.
Para o médico, especialista em doenças cerebrais e diretor da clínica Inokuchi, Endo Hidetoshi, o hábito de praticar esportes pode ter um papel determinante na saúde física e mental dos idosos e pode estar relacionado com a incidência menor de demência em Kagoshima e Nara.
“Quando você compete com alguém em um esporte, a adrenalina é liberada e a motivação aumenta. Especialmente nos esportes derivados do golfe, é necessário contar e reconhecer o espaço, o que aumenta o fluxo sanguíneo no cérebro. Portanto, acredita-se que há o efeito de reduzir a acumulação do beta-amilóide no cérebro, que é a substância causadora da doença de Alzheimer”, explicou.
Depois da partida, os membros do grupo de idosos que jogam golfe foram confraternizar em um karaokê na cidade. Música, boa comida, amizades. Os encontros sociais podem ser mais uma chave que explica a saúde física e mental mesmo após atingir uma idade avançada.
Manter o cérebro ativo, praticar esportes, ter vida social e participação em comunidades podem ser alguns dos segredos de Kagoshima para uma vida longa e mais saudável.