Tóquio – Combater a baixa taxa de natalidade tem sido um grande desafio ao Japão há décadas e o governo central ainda não conseguiu tomar medidas capazes de reverter o cenário cada vez mais desastroso.
Segundo os dados do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar Social, divulgados em fevereiro deste ano, houve 799.728 nascimentos registrados em todo o país no ano passado. Este número o menor patamar desde 1899, quando começaram a contar as estatísticas e a taxa está em queda contínua ano após ano.
Em contrapartida, as províncias na região de Chugoku, que engloba Shimane, Hiroshima, Okayama, Tottori e Yamaguchi, têm apresentado um desempenho um pouco melhor. Em 2021, a média era de 1,37 filhos por mulher, um registro que considera a quantidade de filhos que uma mulher tem durante toda a vida.
Este dado ficou um pouco mais alto do que a média nacional, mas o que vem se destacando mesmo é Nagi, uma pequena cidade na província de Okayama e que faz divisa com a vizinha Tottori. Com uma população de cerca de 5.700 residentes, a cidade rural tem visto a taxa de natalidade registrar um dado positivo ano a ano, graças as medidas adotadas na região para combater o encolhimento.
Em uma reportagem do jornal Mainichi, o chefe do Departamento de Assuntos Gerais da cidade, Eiji Moriyasu, de 44 anos, disse que a diminuição da natalidade é a “origem de todos os males” e mostrou que a cidade tem lidado com a questão com bastante consciência e sabedoria.
“É por onde começam todos os problemas. Combater a baixa taxa de natalidade e o envelhecimento são duas urgências iguais. Se as gerações mais novas diminuem, fica difícil manter mercados e hospitais e não há outra escolha a não ser fechar. Os primeiros a sofrerem são os idosos e em um piscar de olhos a cidade se torna deserta”, explicou.
O plano efetivo de Nagi
Foto de Kelli McClintock na Unsplash. (Imagem ilustrativa)
A cidade de Nagi implementou medidas de combate ao encolhimento populacional durante 20 anos e está colhendo os frutos. Em 2019, a taxa de natalidade foi de 2.95 e isto rendeu uma fama de “cidade dos milagres”. Em 2021, Nagi registrou uma taxa de 2.68 e segue na expectativa de manter esses dados.
A cidade tem chamado atenção também fora do Japão e costuma receber 50 visitas anuais de líderes políticos estrangeiros. Já recebeu a visita de líderes dos Estados Unidos, Coreia do Sul, Holanda, Catar e mais recentemente do primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida.
Antes de começar a crescer, a cidade enfrentou um risco de desaparecimento por causa da taxa populacional, um problema que afeta muitos municípios no interior do Japão. Em 2002, Nagi decidiu pela sua continuidade em uma votação popular e se uniu as cidade de Tsuyama e Mimasaka para sobreviver. Conter a baixa taxa de natalidade era uma urgência.
Segundo a reportagem, houve várias medidas nesta trajetória. Primeiro, a cidade diminuiu o número de membros do conselho municipal de 14 para 10 e depois cortou subsídios e transferências de recursos, pediu a colaboração dos residentes e conseguiu economizar cerca de ¥160 milhões.
Na sequência, o município deu prioridade para as políticas de apoio à criação dos filhos e começou a revitalizar. Os materiais escolares e consultas médicas se tornaram gratuitas do ensino primário (shougakkou) ao médio (koukou) e a cidade passou a oferecer um subsídio de ¥240 mil por ano para estudantes do ensino médio.
Em 2007, Nagi deu mais um passo no processo de tornar o município uma referência na criação dos filhos: foi inaugurado o “Nagi Child Home”, uma instalação de apoio, que oferece serviços como cuidados temporários de crianças e um espaço proativo para que pais possam se encontrar e interagir enquanto acompanham seus filhos.
A instituição conta com uma equipe composta por mães de idades diferentes e promove uma ampla participação da comunidade local.
Como resultado, Nagi ficou conhecida por ser um município que presta amplo apoio às famílias com crianças e isto atraiu também moradores jovens que vieram de fora. A taxa de natalidade aumentou, mas também houve queda populacional por causa das mortes de idosos.
Em março de 2023, a população foi registrada em 5.751 habitantes, um pouco mais do que em abril do ano anterior, quando estava em 5.725. As medidas adotadas pela pequena cidade japonesa podem ajudar o governo central do país a implementar politicas mais eficazes para reverter o problema antes que o Japão se depare com as graves consequências do encolhimento populacional desenfreado.