Apesar das possibilidades atuais, com pelo menos uma dezena de streamings pelo mundo, ser original é complicado. Não sei se por medo de errar ou desagradar, mas há uma probabilidade pequena de uma produção, seja série ou filme, agradar o público e a crítica ao mesmo tempo. Porém, não é só por isso que Treta (Beef) se destaca. A narrativa é bem construída, com bons diálogos e uma fotografia bem construída. Esta é daquele tipo de série que te prende quanto mais você avança. Então, se você começou e parou nos primeiros episódios, te convido a dar mais uma chance para a série.
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Antes de abordar a trama da série, é importante destacar os atores e suas atuações. A atriz Ali Wong mandou muito bem, chamando atenção da forma com que ela deu vida à neurótica Amy Lau. Sua parceria com Steven Yeun (Danny Cho) deu muito certo, mostrando que não é preciso jogar um monte de clichês para fazer uma boa história. Outra dupla de grande carisma é sem dúvida David Choe (Isaac, o primo de Danny), e Maria Bello (Jordan, a ricaça que quer comprar o negócio de Amy). Também é importante mencionar a atuação da atriz mirim Remy Holt como June, filha de Amy. Eu demorei uns dois episódios para perceber que Edwin era Justin H. Min, da série The Umbrella Academy.
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Uma treta de trânsito
Se essa série tem um tema principal é de falar sobre o “fundo do poço”. Tanto Amy como Danny, aparentemente estão em um processo assertivo em suas carreiras, mas por motivos opostos, se sentem fracassados. E não há como negar que a briga de trânsito que eles se envolvem não é nada e mesmo assim, acaba se tornando um objetivo na vida dos dois. Nesse ponto, é importante lembrar que em eventos como esse, todos nós temos reações parecidas. Uma fechada, uma buzinada, ver alguém te mostrando o dedo do meio em uma discussão, tem mesmo o potencial de nos fazer explodir, tendo reações totalmente imprevisíveis e descontando raiva, frustração e qualquer coisa que tenhamos dentro em quem está ali nos atacando.
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Esse singelo ato de reagir aos ataques cria a rixa dos protagonistas, que a princípio parecem ser muito diferentes. A reação das redes sociais também e a nossa interação excessiva com ela são bem retratadas na série. Esses pontos dão à trama um ar de realidade, conectando-nos aos personagens por meio de suas reações, que são tanto imprevisíveis quanto exageradas. Então, mesmo que tudo aquilo tenha sim uma boa extrapolação do que pode acontecer na realidade, a partir de agora vamos pensar duas vezes antes de buzinar ou discutir em uma fechada no trânsito.
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A depressão como pano de fundo
Se você evitou assistir a série por medo de que a depressão dos protagonistas seja um tema central, saiba que ela é abordada de forma secundária na trama, mas que percebemos o tempo todo aparecendo entre as cenas de Amy e Danny. Ambos escondem suas fragilidades do mundo, como todo asiático, seja ele descendente ou não, é ensinado desde sempre a fazer. Danny até questiona como a terapia ocidental, não é capaz de ajudar os asiáticos a se resolverem. Além disso, a violência, as traições e o vazio de suas vidas são exploradas de forma a que a gente se divida o tempo todo, entre torcer por Amy e odiar Danny e vice-versa. Para finalizar, o último episódio entra em uma viagem, não tão louca quanto no filme Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, mas igualmente curiosa.
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