Tóquio – Os jovens japoneses já inventaram uma nova expressão para falar de suas experiências com empregos ruins. O termo “ba-chiku”, que é a junção de “baito” (trabalho de meio período) com “chiku”, que pode ser traduzido como “gado”, tem se popularizado como uma nova gíria no país.
Mas não são só os jovens que enfrentam esse tipo de emprego. Segundo uma reportagem da revista Nikkan SPA, muitos japoneses de meia idade também estão fazendo uso da mesma expressão e amargando as mesmas experiências.
São pessoas que enfrentam condições de emprego pouco favoráveis e não conseguem encontrar opções melhores. Há promessas de melhorias e uma possibilidade de contratação efetiva que vem se arrastando por anos nas empresas onde atuam.
Masanori Inoue* tem 42 anos e trabalha em uma empresa que faz serviços de mudança. Ele era funcionário efetivo na empresa anterior, mas teve que deixar o trabalho por causa da queda na demanda. No novo emprego, já atua há mais de uma década na condição de “aruibaito”, que é serviço de meio período.
Com o passar do tempo, as expectativas de ser efetivado foram diminuindo apesar das promessas dos chefes.
“Faz 12 anos que estou nessa empresa e continuo trabalhando como aruibaito. Eles dizem que um dia, mais cedo ou mais tarde, irão me contratar, mas não passa dessa conversa. Se eu toco no assunto, o tom muda. O chefe me disse que eu não tenho mais onde trabalhar e não deveria ficar pedindo luxos”, desabafou.
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Efetivado aos 63 anos
Na empresa de Masanori, boa parte dos funcionários são japoneses que já passaram dos 40 anos e ouvem as mesmas promessas. O salário não passa de ¥160 mil por mês, mesmo com horas extras e solicitações que vão além do serviço de meio período que é o modelo de contratação temporária.
“É uma empresa subsidiária de uma grande distribuidora. Um trabalho que exige força física e nos mandam até supervisionar mudanças, mesmo sendo arubaito. E também tem uma negligência com a saúde dos funcionários, os exames que nos pedem para fazer são sempre os mais baratos e incompletos”, disse.
Masanori contou para a reportagem que, outro dia, viu uma colega comemorar a efetivação em um raro episódio dentro da empresa. O colega tinha entrado na empresa aos 50 anos e já completava 13 anos trabalhando como funcionário temporário quando finalmente foi contratado.
Mas, a tão desejada estabilidade acabou chegando mais tarde do que o esperado.
“Sinceramente, não tem muito o que comemorar. Ele está com 63 anos e vai se aposentar daqui a dois anos. Só agora aprovaram a efetivação”, lamentou.
Enquanto isso, Masanori e muitos outros trabalhadores seguem na mesma situação. Embora a demanda por emprego esteja alta no Japão devido à falta de mão de obra crescente, muitas vezes as condições não são favoráveis.
*nome fictício