Anime é sempre um bom motivo para deixar as coisas de lado por algumas horas. Novas histórias sempre trazem elementos importantes do dia a dia e exploram relações com a nossa vida cotidiana. Para quem não cresceu no Japão, certamente que fica um pouco difícil entender o sentimento de nostalgia que a vida em um conjunto habitacional, ou danchi, é. Uma casa à deriva (雨を告げる漂流団地 – Drifting Home) tenta mostrar um pouco do que é isso, mexendo com aquela sensação de saudades, a dura realidade do luto e da separação.
Como o filme é longo e cheio de personagens, algumas pessoas têm sentido que ele é um pouco cansativo, mas isso tem uma razão. O importante aqui é entender que a produção de Ishida Yukuyasu tenta mostrar o fim da era dos danchi, que já começou há 20 anos e agora, está fazendo com que esse estilo de vida japonesa fique no passado.
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A mística por trás dos fenômenos de Uma casa à deriva
Para quem não sabe, o Japão passou por um rápido crescimento populacional em 1970. Em resposta à necessidade de abrir mais famílias com crianças, foram criados os danchi, ou os conjuntos habitacionais. A vida em um danchi passou a retratar a vida da família japonesa comum e muitos filmes saíram diretamente desse contexto.
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A próxima década, 1980, foi marcada por histórias de fenômenos paranormais dentro desses apartamentos. O que deu um outro boom na popularidade desses imóveis. Além disso, o alto número de suicídios dentro desses apartamentos, ajudou ainda mais a deixar uma aura assustadora para essas residências. Porém, nos anos 2000, se inicia o fim de muitos danchi, com muitos deles sendo demolidos e dando espaço para novos prédios e condomínios de casas. Na década passada, tivemos o abandono dos danchi, onde alguns ainda resistem, enquanto dão lugar para novos empreendimentos.
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Por isso, esse filme é feito para adultos, de pelo menos 30 anos, que passaram suas vidas convivendo e consumindo histórias passadas dentro dos danchi. Outra coisa que fica é preciso saber sobre os danchi, é que eles eram lugares onde havia muitas crianças. Isso fica bem exemplificado no filme, com muitos personagens, que acabam não tendo aprofundamento, simplesmente porque eles são um completo a esse estilo de vida.
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Sem esse pano de fundo, a trama pode até parecer muito genérica e sem aprofundamento, uma vez que o sentimento de uma era que hora é nostálgico, simplesmente não existe. Além disso, a ligação da personagem Natsume com o local, tenta mostrar o quão importante foi essa parte da vida para ela, como se a Natsume expressasse toda essa nostalgia da era Showa. E Kosuke, já é o reflexo dessa nova sociedade, que segue em frente.
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A dor do fim de uma era
Não bastasse todo esse sentimento de nostalgia, Natsume e Kosuke vivem uma nova fase muito complicada, pois precisaram se mudar do local onde dividiram bons momentos de sua infância, somado com o luto pela perda de Yusa, o avô de Kosuke, que era quase um pai para Natsuke. Além disso, ambos chegaram em uma idade onde os sentimentos de irmãos podem começar a se confundir com algo mais, mesmo que não seja. O filme também demonstra todo o respeito pelos danchi, não deixando apenas um estereótipo de cada década. Para finalizar, a parte sobrenatural, apesar de parecer forçada no começo, mostra níveis e níveis, surpreendendo com cada novo elemento sobrenatural que aparece na história.
O filme está no Top10 da Netflix Japan desde seu lançamento.
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