Tóquio – Tirar licença paternidade ou maternidade pode ser um verdadeiro desafio para quem trabalha em empresas no Japão.
Uma pesquisa do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar Social mostrou que os homens sofrem quando tentam tirar o direito garantido por lei e informam os chefes que devem se ausentar por causa do nascimento de um filho.
A pesquisa foi divulgada nesta semana pela agência de notícias Kyodo News e mostrou que 26,2% dos entrevistados já passou por esta experiência ao tentar tirar a licença paternidade.
Ao solicitar o benefício, estes homens enfrentaram um tipo de abuso chamado de “Paternity Harassment” (パタニティーハラスメント).
Depois de ouvir reclamações, xingamentos e serem destratados, na maioria das vezes pelo chefe, 42,7% destes trabalhadores acabaram abrindo mão de tirar a licença paternidade.
O governo japonês está em processo de revisão da lei de cuidado com idosos e com crianças e deve apresentar um projeto que visa encorajar o uso do benefício.
No entanto, as autoridades políticas envolvidas perceberam que isto pode não ser suficiente para resolver o problema. A dificuldade de mudar a cultura das empresas, que é responsável por este tipo de abuso, se tornou a principal preocupação.
O Japão enfrenta há décadas a queda do número de crianças que nascem todos os anos. A dificuldade do sistema, que torna a criação dos filhos mais árdua e a falta de incentivos para conciliar o trabalho e a vida familiar tem sido visto como possíveis razões para isto.
Ainda é muito comum que as mulheres optem entre a maternidade e a carreira no Japão. O sistema não facilita para que a mulher consiga ser mãe e investir em sua profissão ao mesmo tempo.
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Licença paternidade e maternidade no Japão
Em 2018, outra pesquisa do governo japonês investigou o índice de adesão dos benefícios por homens e mulheres.
Os dados mostraram que mais de 80% das mulheres tiraram licença maternidade nos últimos 10 anos, mas no caso dos homens, o índice de quem usufruiu da licença paternidade foi de apenas 6,16%.
No Japão, o tempo de licença paternidade varia de acordo com o regulamento das empresas. A lei diz que o benefício deve ser tirado até a criança completar 1 ano de vida e pode ser prorrogado em algumas situações.
O governo apurou em 2018 que 45% dos homens japoneses tiram de um dia a uma semana de folga quando nasce um filho. Apesar das empresas terem este sistema, na prática, o trabalhador interessado tem que enfrentar obstáculos e lutar para fazer valer o direito.
No caso das mamães, a licença é de 98 dias. A funcionária gestante não deve trabalhar nas últimas 6 semanas antes do parto e nas 8 semanas que seguem após o nascimento.
Nas empresas, as mulheres também não escapam do bullying e do assédio moral. O termo “matahara” é utilizado em japonês para falar do assédio que muitas funcionárias sofrem quando a gravidez é descoberta por chefes e colegas.
Há mulheres que são pressionadas a deixar o trabalho. Por causa da necessidade de se ausentar ou por se tornarem menos produtivas durante o período de gestação.