Tóquio – Parecia tudo normal dentro de um vagão da linha Yamanote na tarde do dia 25 de junho. Os vagões estavam lotados como de costume e quando o trem operado pela Japan Railways (JR) passou pela estação de Shinjuku, algo inusitado aconteceu.
De repente, o clima mudou. Algumas pessoas começaram a fugir e se afastar em choque, outras entraram pânico, muitas não entenderam o motivo da correria. Por via das dúvidas, até quem não entendeu o que estava acontecendo acabou fugindo também.
“O vagão começou a tremer do nada e eu pensei que fosse um terremoto. Quando percebi, as pessoas que estavam no vagão ao lado do meu começaram a gritar e correr. Houve o grito de uma menina e um homem berrando que era para fugir”, contou uma passageira para a Emissora Fuji.
O caso foi tão inusitado que acabou se tornando foco de uma reportagem do programa Mezamashi-8 da Fuji. Na prática, não houve nenhum incidente de fato ou intenção de causar o caos dentro do trem, mas um objeto que acabou sendo percebido foi suficiente para uma reação massiva de pânico.
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O pânico no trem de Tóquio
A reportagem da Fuji contou que um homem na faixa de 50 anos e de nacionalidade estrangeira (que não foi revelada), estava no vagão com os seus pertences e dentro de suas coisas, havia duas facas grandes e afiadas.
O vagão estava tão cheio que os ombros das pessoas quase se tocavam. O estrangeiro tinha se acomodado perto de uma das portas, as facas estavam em seus pés, enroladas por panos. Elas acabaram caindo com o movimento, fazendo o metal tilintar e as lâminas acabaram descobertas.
Os passageiros mais próximos teriam percebido as facas e quando o homem se abaixou para arrumar e segurou no cabo, o pânico começou. Ele teria dito em um japonês carregado de sotaque: “está tudo bem, está tudo bem”.
Mesmo assim, ninguém se acalmou. Os passageiros que viram as facas caídas e o homem agachado, juntando e segurando nos cabos, provavelmente para arrumar melhor o pano ao redor das lâminas, saíram correndo em desespero.
Alguns avisavam sobre as facas, outros simplesmente diziam para que todos fugissem, sem explicar. O caso provocou uma reação massiva e os passageiros correram na direção do vagão ao lado, tentando se afastar.
“Primeiro eu ouvi alguns gritos e pensei que fosse uma briga, mas depois eu entendi que estava dizendo que era perigoso e que era para fugir. Eu vi uma passageira em pânico alertando uma pessoa atrás dela do perigo”, contou um homem que estava no mesmo vagão.
No fim das contas, o passageiro não conseguiu explicar nada e nem demonstrar com clareza que não tinha intenção de ferir ninguém. As leis japonesas proíbem o porte de facas em lugares públicos, mas as circunstâncias não foram esclarecidas.
A professora de psicologia social da Universidade de Seijo, Kana Yamauchi, explicou sobre o que causa esse tipo de reação em pânico massiva:
“Há três circunstâncias que podem provocar uma reação de pânico generalizada em um grupo. A primeira é uma ameaça iminente a si mesmo, a segunda é não ter informações suficientes sobre o que está de fato acontecendo e a terceira é perceber que não há uma rota de fuga livre ou fácil”, explicou.
Nesta situação, as três reações podem ter sido sentidas por passageiros diferentes. Quem viu a faca sentiu-se ameaçado, mas não passou a informação com detalhes para quem estava mais longe.
Muitos que não viram o objeto e não sabiam o que estava acontecendo acabaram em pânico por causa das reações dos outros passageiros. E por fim, o vagão lotado e aglomerado não apresenta uma rota de fuga fácil, o que pode ter contribuído também com a situação caótica.