Naha – Depois do fim do estado de emergência, a província de Okinawa, no extremo sul do Japão, tem registrado aumento dos casos de coronavírus.
O fluxo de viajantes de outras províncias, a vida noturna e estabelecimentos que não estão notificando casos, podem estar contribuindo com a piora deste cenário.
De acordo com o jornal Okinawa Times, no fim de semana de 10 e 11 de abril, foram quase 240 novos casos registrados. O índice de contaminação para cada 100 mil habitantes chegou a 53,95 na última semana, deixando Okinawa em segundo lugar entre as províncias japonesas.
O total de infecções passou de 10.700 casos e o governo local intensificou os pedidos de restrições. A partir desta segunda-feira (12), os bares e restaurantes de toda a província devem encerrar o atendimento às 20h.
Em meio ao aumento de caso e das restrições, Okinawa tem enfrentando um problema maior com os estabelecimentos noturnos. Uma reportagem do Portal Nikkan SPA! conversou com pessoas que trabalham em cabarés na região de Matsuyama na capital Naha, famosa pelo entretenimento adulto.
Cabarés de Okinawa
Masaki (nome fictício), um japonês que trabalha em frente a um cabaré em Matsuyama, exercendo o papel de atrair os clientes para o estabelecimento, contou um pouco da situação local.
“Estão ocorrendo muitos surtos nos cabarés e host clubes de Matsuyama, mas quase nenhum estabelecimento está fazendo a notificação. Até fevereiro teve o estado e emergência e o número de clientes caiu muito neste período”, contou.
Depois de um momento de crise, os estabelecimentos noturnos voltaram a receber um número maior de clientes e parecem que não querem abrir mão disto.
“Recentemente, voltaram a aparecer clientes, a maioria é homens em viagens de negócios, que moram em outras províncias. Estamos vendo pessoas afrouxando as medidas e até clientes sem máscara”, lamentou.
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Surto no ano passado
Em julho do ano passado, um cabaré em Matsuyama registrou 14 casos de coronavírus entre funcionários e clientes. O nome do local foi divulgado pela mídia na época, atraindo a atenção.
Yui (nome fictício), uma dançarina que acabou infectada na época, contou sobre a experiência ao Nikkan SPA.
“No começo eu não tinha sintomas, mas fui instruida a fazer o exame e então deu positivo. Como tenho asma, a recomendação foi de me internar, mas tenho um animal de estimação e preferi ficar em casa”.
Depois de alguns dias, Yui piorou e teve que colocar o pet em um hotel e ir para o hospital.
“Eu fiquei em um quarto com outros seis pacientes de coronavírus. Quando comecei a ter febre, me disseram que seria no mínimo sete dias de internação e depois eu poderia receber alta, pois já não estaria mais transmitindo”.
Yui chegou a ter febre de 38°C e depois perdeu o olfato e paladar.
“Voltei para a casa, mas não sentia gosto ou cheiro. Cozinhei curry sem sentir o cheiro de nada. O pior foi o meu bichinho, pois ele fez xixi no quarto e eu não percebi, não sabia o momento de dar banho”, contou.
Os sintomas persistiram por três meses depois da alta hospitalar.
O estabelecimento onde Yui trabalhava fechou por duas semanas e depois reabriu com medidas mais intensas, medição de temperatura na entrada, máscara e instruções para passar álcool gel nas mãos.
No escritório que orienta os clientes dos cabarés (chamados de muryo annai-jo), cartões foram entregues para a realização gratuíta do teste PCR, oferecidos pelo governo da província.
Em Okinawa, os estabelecimentos noturnos passaram a temer que o nome acabasse divulgado pela mídia como ocorreu no ano passado, o que pode estar implicando na ocultação dos surtos.
No entanto, a província vem lutando contra o aumento dos casos e tomando medidas mais rigorosas para prevenir a transmissão.