Osaka – A época da bolha econômica deixou saudades em quem viveu no Japão há mais de 30 anos. A situação financeira favorável dos anos 1990 permitiu que muitos trabalhadores realizassem sonhos como investir em uma casa própria, em uma região que prometia crescer, se desenvolver e prosperar.
Mas não foi o que aconteceu, ao menos não na chamada “Ibaraki-dai New Town”, uma região montanhosa perto da cidade de Ibaraki, em Osaka, que carregava grandes promessas quando os terrenos foram vendidos e casas foram construídas há 35 anos, por cerca de ¥26 milhões.
Uma reportagem da emissora Fuji visitou as casas de moradores que compraram o imóvel por esse valor, mas agora não conseguem vender por mais do que ¥2 milhões. A residência fica a cerca de 40 minutos de carro da Estação de Ibaraki e para chegar, é preciso passar por uma estradinha estreita e perigosa, com risco de cair em uma vala.
Mesmo assim, o carro conseguiu passar em segurança e a reportagem seguiu para a região de “Ibaraki-dai”, que um dia foi a realização do sonho de muitas famílias em busca de um lugar tranquilo e revigorante para morar.
Um idoso de 85 anos, que comprou a casa na região há 35 anos, contou um pouco de como a situação foi mudando de sonho para pesadelo com o passar dos anos.
“O ônibus hankyu vem até a nossa região, mas antes tinha um ônibus por hora e agora são três ônibus durante o dia todo. Não tem ninguém para andar de ônibus aqui, estão sempre vazios. Se você não tiver um carro, é impossível morar aqui. Em 1995, eram cerca de 700 moradores, agora não tem mais do que 300, a maioria com mais de 70 anos”, contou.
Na cidade, há casas abandonadas com buracos nas paredes, que foram deixadas para trás por muitos anos e outras estão tomadas por vegetação a ponto de não ser possível enxergar as paredes. Nem todo mundo tentou vender depois que a desvalorização começou, muitos simplesmente foram embora.
O comércio que existia há mais de 30 anos acabou fechando as portas e não há hospital ou escola por perto. A questão que fica é: como uma zona tão isolada e de difícil acesso pode ter gerado uma expectativa de desenvolvimento tão grande no passado, a ponto de ter atraído tantas pessoas?
A promessa da bolha ecônomica
Na época em que a região foi ofertada como uma promessa de desenvolvimento e valorização, cerca de 600 casas foram vendidas e só os terrenos custavam mais de ¥10 milhões. Mesmo assim, foram vendidos sem dificuldades.
Na época da construção, um panfleto anunciava com gosto: “Ibaraki-dai New Town”, uma cidade em desenvolvimento que realizaria os sonhos de seus novos moradores. Mas em letras pequenas estava escrito também: cidade de Kameoka em Quioto. O nome era “Ibaraki”, mas na verdade, a zona faz parte da administração de Kameoka e é nessa cidade que os moradores deveriam registrar seus endereços.
Masahachiro Horiuchi, de 70 anos e líder da comunidade local, disse que houve vários enganos nessa época.
“Depois que eu vi a questão da cidade eu levei um susto. O nome é “Ibaraki-dai”, então parecia óbvio que ficava na cidade de Ibaraki, mas mesmo assim não acho que nos enganaram de má fé. Na época quase todos os terrenos foram vendidos e apesar da distância, rolava um boato de que fariam uma extensão do monotrilho para que o trem chegasse até aqui”, contou.
Nunca aconteceu e a promessa foi esvaindo com o fim da bolha econômica. Ainda nos primeiros meses, parecia que a região ia mesmo prosperar.
“Depois de seis meses que eu comprei o terreno, queriam comprar de mim e pagar três vezes o valor, a economia estava bombando. Pensei em investir no início, mas a bolha acabou antes que os planos pudessem ser concretizados. Até a empresa que construiu acabou falindo”, lamentou.
Os moradores que restaram não conseguem vender suas casas por mais do que ¥2 milhões hoje. Reprodução / FNN.
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As casas de férias
Por outro lado, o baixo valor das casas também acabou atraindo alguns compradores, não necessariamente para morar na região, mas para ter um local para passar tempo em um refúgio afastado da cidade.
Shouta Masusawa, de 46 anos, comprou uma casa na região por um pouco mais de ¥1 milhão há 8 anos. Ele trabalha remotamente e gosta de fazer exercícios físicos. Shouta acabou atraído pela região e os preços e comprou o imóvel para usar como casa de veraneio.
A região já não é nem um pouco atrativa para que quem morar e viver com suas famílias. Não há uma boa estrutura, além da distância, fora todos os inconvenientes de casas abandonadas. Mas para quem busca imóveis baratos para passar algum tempo, ainda há alguns atrativos.
Quem acabou com um grande prejuízo foram os moradores originais que tentaram vender as casas depois por uma fração do valor ou simplesmente foram embora e abandonaram os imóveis.