Tóquio – As belas estátuas da deusa budista Kannon, que destacam cidades no interior do Japão, já foram ícones religiosos, culturais e históricos, monumentos de alta atração turística e símbolos da paz.
Mas nos últimos anos, muitas se tornaram ameaças aos moradores que convivem de perto. Anos de negligência, paredes descascadas, estruturas fragilizadas por causa do abandono e riscos elevados de desmoronamento resultaram na atual situação de perigo.
A responsabilidade de investir na reforma dos monumentos não é creditada a ninguém, mas os moradores que sentem o risco seguem assustados e pedindo ajuda. As estátuas gigantes que não recebem manutenção podem tombar repentinamente ou pela ação de uma força da natureza, um terremoto ou tufão.
Foi o que aconteceu em 2018, na cidade de Okinawa, no extremo sul do Japão. Uma estátua de 25 metros de altura e 40 toneladas acabou tombando pela força de um tufão. E mesmo agora, mais de 4 anos depois, a estátua não foi restaurada.
Outro caso foi da estátua gigante da Kannon na ilha Awaji em Hyogo, um símbolo da paz mundial. Com 100 metros de altura, a estátua foi construída em 1982 para que se voltasse à Baía de Osaka. O monumento chegou a atrair mais de 4 mil turistas em um único dia em seu tempo mais glorioso.
Mas o responsável pela estátua faleceu e a situação se modificou completamente. A estátua antes gloriosa se transformou em um perigo de enormes proporções. O concreto embaixo do teto do observatório começou a cair, a estrutura de ferro se fragilizou.
Um tufão derrubou partes externas e a situação ficou mais perigosa. Em 2021, o governo local teve que investir ¥880 milhões dos cofres públicos para demolir a estátua antes que a negligência terminasse em tragédia.
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Um perigo em Ishikawa
Outra estátua gigante que tem causado transtornos é a grande Kannon erguida na cidade de Kaga, na província de Ishikawa. De acordo com a reportagem da emissora Fuji, os moradores estão cada vez mais preocupados com o monumento de 73 metros de altura e 40 toneladas.
Construída em 1988, na época da bolha econômica e por iniciativa de um empreendedor do setor imobiliário, a estátua exigiu um investimento de ¥30 bilhões e serviu para promover o turismo local e revigorar a região, nesta época tomada por hotéis, comércio e pontos de lazer.
Nesta época, cerca de 500 mil turistas acabavam atraídos para Kaga, admiravam a estátua e as belezas locais, curtiram os hotéis e restaurantes. Mas o tempo passou, a região perdeu força e a estátua acabou negligenciada.
Houve disputas para definir de quem era a responsabilidade de cuidar da estátua, mas nada foi decidido e o processo de degradação avançou. Os moradores locais contaram para a emissora Fuji sobre suas preocupações.
“É assustador pensar que essa estátua enorme pode tombar e cair aqui na região”, disse uma mulher que mora perto do monumento.
“Já são mais de 20 anos de negligência com essa estátua. Isto se transformou em um legado negativo”, criticou um homem.
“Não existe manutenção nenhuma, Só tem prejuízo e desvantagens em manter a estátua deste jeito aqui”, disse outro cidadão.
O que antes era um símbolo de paz, história e cultura, se tornou um perigo. Para muitas estátuas que já cumpriram um papel importante em suas localidades, só resta dois destinos: a restauração ou a demolição e as disputas tentam encontrar responsáveis, já que muitos monumentos foram erguidos por iniciativas privadas há várias décadas e não há mais responsáveis.