Iwaki – Há 10 anos, em 11 de março de 2011, o Japão vivia uma de suas mais tristes e memoráveis tragédias naturais: o terremoto de magnitude 9, seguido pelo tsunami que devastou cidades na região de Tohoku e deixou um rastro de destruição e mais de 18 mil mortos e desaparecidos.
Esta data, que nunca será esquecida, se tornou uma ocasião importante para compartilhar histórias, relembrar as vítimas e fortalecer a consciência sobre desastres naturais.
Na cidade de Iwaki, localizada na província de Fukushima, um grupo de sobreviventes compartilha suas histórias, experiências e lições que podem fazer a diferença para as novas gerações e para quem nunca vivenciou um desastre natural desta magnitude.
No “Encontro para Contar Histórias de Iwaki”, acompanhado pela emissora Fukushima TV, Akihiro Ono, de 30 anos, contou como resgatou a avó no dia do tsunami, depois que a casa foi invadida pela onda.
“Vi a minha avó afundando na minha frente, na superfície estavam seus cabelos brancos. Eu entrei em pânico e a puxei pelas axilas. A casa, que ficava a beira-mar em Iwaki, foi tomada pela água, que chegou a altura do meu pescoço”, contou.
Depois do terremoto, Ono conta que pensou em fugir, mas não conseguiria deixar a avó para trás, então decidiu ficar com ela apesar do risco. Do segundo andar da casa, tirou uma foto do mar momentos antes da onda gigante invadir a cidade.
“Era 15h21 quando eu estava na varanda e vi a maré subir de um jeito que nunca tinha visto antes. Quando a onda invadiu a casa, flashes vieram na minha mente, lembranças da época da escola, o rosto dos meus colegas. Acredito que sobrevivemos por um milagre”, relembra.
Ono e a avó conseguiram ser resgatados da tragédia, mas na região de Tairatoyama, onde estavam no dia do desastre, 85 vidas foram perdidas.
Culpa por estar vivo
A consciência de que 85 pessoas, entre seus vizinhos, não tiveram a mesma sorte, provoca sentimentos confusos em Ono, que diz que já sentiu culpa por ter sobrevivido.
“Eu estava na linha de frente do mar e consegui sobreviver sem ter fugido. Quando penso nos que morreram a poucos metros ou quilômetros e seus familiares, sinto dúvidas se foi mesmo bom ter sobrevivido. Eu sigo a vida sentindo essa culpa”, desabafou.
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Lições do tsunami
O Japão é um país que enfrenta o risco constante de desastres naturais e outra tragédia como a de Tohoku pode acontecer a qualquer momento e em qualquer região do país.
Esta consciência é o fator principal que move as atividades de prevenção e treinamentos sobre como agir para salvar a própria vida.
No encontro, o japonês Keiichi Otani, de 72 anos, disse que se preocupa com a possibilidade do desastre de Tohoku ser esquecido no futuro, quando não houver mais sobreviventes para contar essa história.
“Ver alguém como o Ono, na faixa de 30 anos, participando dessas atividades, nos traz esperanças e expectativas. Passaram dez anos, mas podiam ser 100 anos. Nossa preocupação é em como continuar contando essa história para as próximas gerações”.
Ono conta que levou como missão a valorização da vida e a responsabilidade de passar sua história adiante, ajudando a fortalecer a consciência de quem não sabe como é viver um desastre natural devastador.
“Eu me salvei sem fugir, mas quero que as pessoas entendam que precisam fugir para salvar suas vidas. Se acontecer um desastre, é preciso agir rapidamente com o único objetivo de proteger a própria vida”, aconselhou.
“Eu digo para as pessoas pensarem para onde elas vão, que tipo de desastre pode acontecer no local e então imaginar o que devem fazer neste caso. Se acontecer, não pense em tirar fotos, vídeos e registrar a tragédia, se preocupe apenas em salvar a sua vida”, finalizou.