Tóquio – Quem trabalha nas lojas de conveniência do Japão precisa enfrentar todo o tipo de situação. Desde brigas nas filas até clientes agressivos ou idosos que não sabem expressar com clareza o que desejam e se irritam.
Há inclusive um tipo de assédio chamado de “kasuhara” (customer harassment), que é quando o cliente se sente no direito de cometer abusos psicológicos ou físicos contra os funcionários de algum estabelecimento.
Neste contexto, um homem japonês, que trabalha há anos em lojas de conveniência, decidiu fazer um experimento.
Identificado como “A”, ele colocou o crachá com o nome de um colega estrangeiro que não trabalhava mais na loja para verificar se teria alguma alteração no comportamento usual dos clientes.
Para a surpresa dele, as mudanças foram imediatas. Quando usava o crachá com o próprio nome, “A” era perturbado por muitos clientes inadequados.
“Uma vez um senhor pediu um cigarro de uma marca e eu perguntei se ele poderia dizer o número, ele ficou bravo. Em outro caso o cliente falava muito baixo, eu pedi para repetir e ele gritou tão alto que poderia ouvir da rua. Quando coloquei o crachá e fingi ser um estrangeiro, tudo mudou”, disse.
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Comportamento dos clientes
O japonês contou ao portal de assuntos jurídicos Bengoshi News sobre a experiência. Ele disse que no primeiro dia em que passou a usar o crachá com nome estrangeiro, as coisas mudaram.
“Eu decidi fingir que sou um estudante intercambista estrangeiro, passei a usar poucas palavras e exibir o crachá. De repente, os clientes que faziam pedidos excessivos e agiam de forma incômoda, se calaram”, explicou.
As coisas pareceram melhorar, uma vez que o cliente tomou consciência de que o atendente é um estrangeiro, talvez tenha ficado com receio de não ser compreendido e se limitou a uma comunicação mais básica.
“Por exemplo, tem clientes que se irritam se tiver que esperar um segundo na fila e reclamam. Mas ao me identificar como estrangeiro, esses clientes passaram a não dizer nada. A maioria dos atendimentos seguiu tranquilamente. Eu acho que o cliente exige demais quando é atendido por um japonês”, contou.
No entanto, “A” também percebeu que alguns clientes agiram com discriminação ao verem que estavam sendo atendidos por um estrangeiro.
“Teve alguns casos incômodos, mas foram poucos. Teve um cliente bem mal educado que exigiu que eu chamasse um funcionário japonês para atendê-lo”, disse.
O assédio por parte de clientes é algo que já se tornou comum no dia a dia das lojas de conveniência. Este experimento mostrou como o tratamento pode ser diferente pelo simples fato de o atendente mostrar que tem outra nacionalidade.
Se por um lado o receio acabou evitando o assédio, por outro, o funcionário estrangeiro acaba tendo que lidar com casos de discriminação enquanto cumpre sua função de trabalho, ainda que tenha domínio do idioma japonês.