Uma em cada nove crianças no Japão vive atualmente em situação de pobreza, cenário que vem impulsionando o surgimento e a expansão dos chamados “refeitórios infantis” (kodomo shokudō). Esses espaços comunitários oferecem refeições gratuitas ou a baixo custo e funcionam também como um ambiente seguro e acolhedor para crianças após a escola.
Segundo levantamento de organizações civis, essas cafeterias já superam em número as escolas secundárias públicas do país, refletindo a força do voluntariado e a busca por soluções locais diante de um problema nacional. Mantidas por ONGs, cidadãos comuns e até restaurantes de bairro, as iniciativas enfrentam, no entanto, um grande desafio: o aumento constante dos preços dos alimentos.
Na cidade de Chiba, famílias chegam a formar filas para garantir refeições que podem ser consumidas no local ou levadas para casa. A simplicidade e a informalidade dos refeitórios tornam possível que cada grupo defina sua própria frequência de atendimento, cardápio e estilo, o que ajuda a reduzir barreiras e aproximar a comunidade.
Para especialistas, esse crescimento também responde ao enfraquecimento dos laços comunitários. A diminuição da população infantil, o envelhecimento demográfico, o fechamento de ruas comerciais e até o encerramento de escolas estão entre os fatores que reforçam a importância de espaços como esses.
Apesar de sua relevância, os refeitórios sobrevivem com orçamentos apertados. O assistente social Teru Tanaka, por exemplo, coordena uma cafeteria em seu tempo livre e começa a preparar as refeições três horas antes da abertura. O cardápio típico inclui pratos simples, porém nutritivos: chikuwa frito com alga, kimpira de bardana e cenoura com carne de porco, acompanhados de arroz fresco.
O custo dos ingredientes, que chega a cerca de ¥100 mil por mês, pesa cada vez mais no orçamento. Grande parte ainda é coberta por doações locais, mas a inflação exige improvisação constante. Para enfrentar a pressão financeira, organizadores têm buscado alimentos que seriam descartados, além de parcerias com empresas e bancos que passaram a destinar parte de seus lucros para apoiar os refeitórios.
Mesmo assim, a equação continua frágil: a cada mês, mais famílias procuram ajuda, e cada saco de arroz se esgota mais rapidamente. Entre esperança e incertezas, os refeitórios infantis seguem se consolidando como um dos pilares de apoio às crianças em vulnerabilidade no Japão.