Tóquio – Quem já sofreu com os sintomas de hipertermia pode se preocupar em ter que tratar catarata no futuro. Isto de acordo com um estudo realizado por oftalmologistas e professores da Faculdade de Medicina em Kanazawa, capital da província de Ishikawa.
Os pesquisadores analisaram dados de 2,60 milhões de pessoas, disponibilizados pelos hospitais e investigaram a relação da ocorrência de catarata entre aqueles que já foram internados com sintomas de hipertermia.
O resultado surpreendeu: quem já teve hipertermia mostrou uma propensão 4 vezes maior para desenvolver cataratas, em comparação aos que nunca sofreram da condição provocada pelo calor intenso.
A média de ocorrência de catarata foi de cerca de 5 anos após sofrer com a hipertermia. A condição do calor acontece quando há um perigoso aumento da temperatura corporal, seja por causa do calor extremo do verão japonês, tempo de exposição ao sol, atividade física na hora errada ou pouca ingestão de água.
A hipertermia também afeta muito os idosos, principalmente os que vivem sozinhos em apartamentos abafados, que não tem ou não gostam de usar o ar-condicionado. Idosos podem sentir menos calor e quando percebem, estão com os sintomas da condição: tontura, dor de cabeça, fraqueza, alucinações.
A hipertermia é perigosa e é a causa de muitas mortes durante o verão no Japão. E não são só os idosos, há casos de trabalhadores expostos ao sol e jovens, crianças que passaram mal em atividades da escola e acabaram morrendo após os sintomas.
Já a catarata é uma doença ocular que deixa a visão opaca. É comum que aconteça por consequência do envelhecimento, mas há os casos congênitos (detectados ao nascimento) e os que são provocados pela exposição ao sol.
E este detalhe levou os pesquisadores a reunir e analisar os dados dos hospitais.
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A relação da hipertermia com a catarata
Em entrevista para emissora Asahi, o professor da Faculdade de Medicina de Kanazawa, Hiroshi Sasaki, explicou como a condição do corpo pode provocar a doença ocular, de acordo com os dados analisados.
“Quando a temperatura do corpo aumenta, a temperatura dos olhos também aumenta e isto influencia o desenvolvimento da catarata e aumenta o risco. Principalmente a catarata nuclear, que é um tipo muito comum que ocorre quando a opacificação ocorre nos núcleos do cristalino. No último estágio, a luz para de entrar no fundo dos olhos e o paciente quase não consegue enxergar mais”, explicou.
É fato que tanto a hipertermia quanto a catarata atingem mais os idosos, mas Hiroshi fez um alerta sobre isso:
“O risco aumenta desde os 20 anos e é 5 vezes maior para quem já passou dos 60 anos. Se tiver uma grande ocorrência de jovens com hipertermia, vamos ver muitos casos precoces de catarata também”.
Para prevenir, é importante primeiro combater a hipertermia e reduzir os riscos na estação mais quente do ano, o que tem sido desafiador para os japoneses e estrangeiros que vivem no país.
De acordo com os dados do Ministério dos Negócios Internos e Comunicações, de maio a setembro de 2022, 71.029 pessoas em todo o Japão foram socorridas por ambulância por causa dos sintomas da hipertermia.
O número foi o terceiro mais alto desde que as estatísticas passaram a ser registradas em 2008. Em comparação com 2021, que registrou 47.877 ocorrências, mais 23.152 pessoas foram levadas aos hospitais.
Para prevenir é importante beber bastante água, evitar exposições prolongadas ao sol e muito tempo em ambientes não-climatizados. Os idosos devem tomar um cuidado maior e evitar ambientes abafados. O professor Hiroshi tem uma recomendação também para reduzir o risco de catarata caso sofra com a hipertermia:
“A hipertermia faz a temperatura corporal subir para mais de 40℃ e o globo ocular fica igualmente aquecido. Ao baixar a temperatura do corpo, tente esfriar também os olhos, acredito que pode ser efetivo”, sugeriu.