Tóquio – Uma família japonesa entrou com um processo contra o governo de Tóquio por causa da administração de uma escola de ensino médio (koukou) que reluta em investigar adequadamente e reconhecer a responsabilidade no suicídio de um aluno de 16 anos em 2015.
A tragédia aconteceu em 27 de setembro de 2015. Na época, “A” estava no 1° ano do ensino médio na escola Koyamadai Koukou em Shinagawa. Ele morreu atropelado por um trem, depois de se jogar nos trilhos na Estação de Otsuki, em Yamanashi.
O processo está em andamento na Corte de Tóquio. O comitê de investigação, montado para avaliar o caso, afrima que “não é possível confirmar que houve bullying”, mas a família está convencida do contrário.
A mãe alega que encontrou várias evidências no celular do filho, descobriu que ele havia sido excluído do grupo dos meninos da turma e era chamado pelos colegas por um apelido que não gostava. Sobre o nome, o diretor teria dito que isto era “apenas uma brincadeira de palavras” e os originais de uma enquete distribuida na turma depois da morte do garoto foram destruídos.
No dia 20 de janeiro, os promotores e a defesa da acusação entrevistaram testemunhas e o juíz Masahiko Kiyono propôs que as partes tentem negociar um acordo. O caso está em análise no momento.
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Evidências de que o bullying levou ao suicídio
De acordo com uma reportagem do portal Bunshun Online, os laudos do processo mostram diversas evidências que sugerem que o menino sofria bullying, embora a escola não queira admitir.
Entre abril e maio do ano da morte, “A” revelou suas preocupações nas enquetes distribuidas em sala de aula e disse que gostaria de se consultar com alguém da escola. No entanto, a família não foi contatada e não sabia disto.
A mãe de “A” teria verificado o celular do filho depois da morte e encontrou evidências no aplicativo de mensagens LINE. Ela conseguiu recuperar dados e descobriu que ele estava sendo mal tratado por colegas do clube de atividades esportivas, era chamado por um nome que não gostava.
“Acho que foi bullying. Só o meu filho era tratado assim no grupo dos garotos. Ele gostava de cantar, mas chamavam a atenção dele diversas vezes nos treinos e ele chegou a publicar no Twitter que estava com ódio de si mesmo. Se a escola tivesse percebido os sinais de alerta, ele não teria morrido”, disse.
“A” utilizava o Twitter desde que estava no 2° ano do ginásio. No começo, postava sobre games e coisas que gostava de fazer, mas depois de entrar no ensino médio, tudo mudou. Em maio do primeiro ano, passou a postar sobre suas preocupações. Ele publicava que que queria férias e não queria ir para a escola, mesmo quando as férias acabavam.
A mão conta que chegou a perguntar na escola se o filho estava diferente, mas o professor responsável dizia que ele continuava o mesmo.
“Antes das férias de verão, teve um dia que ele estava socando o travesseiro e falando alto. Ele estava furioso com algo que outro estudante disse a ele, provavelmente foi algo muito ofensivo”, comentou.
Mesmo assim, a investigação não pareceu muito disposta a revelar os fatos. Em agosto de 2016, depois da morte do aluno, a mãe teria conversado com um funcionário da escola e pedido que investigassem os colegas próximos ao filho, se não havia problemas entre eles.
Mas na ocasião, houve uma briga. O funcionário teria gritado e dito que a investigação trouxe reclamações de outros alunos e pais. Por fim, a mãe acabou indo embora indignada, dizendo que eles não precisavam investigar nada. O funcionário depois se justificou sobre esse episódio.
“Eu queria tratar o assunto com serenidade, mas ele mencionou o nome de um aluno e eu fiquei irritado. Acabei agindo de forma emocional e elevei o tom de voz. Sinto muito por isto, mas tenho certeza de que não intimidei ninguém”, respondeu.
O caso seguiu por anos sem que a família conseguisse algo concreto da investigação e no fim, restou uma tentativa de fazer justiça através do processo judicial.