Tóquio – A fotojornalista Natsuki Yasuda, de 36 anos, ganhou a causa na justiça ao processar um internauta japonês por um comentário discriminatório no Twitter em dezembro de 2020.
O caso aconteceu quando Natsuki publicou um artigo falando sobre as raízes coreanas de seu pai já falecido e como ele teve que esconder sua origem para não sofrer preconceito no Japão.
Um internauta que leu o texto deixou um comentário afirmando que os descendentes coreanos eram odiados pelos japoneses e que podia entender os motivos de o pai de Natsuki ter escondido sua origem, como se ele tivesse que sentir vergonha ou desprezo por ser filho de coreanos.
Natsuki não deixou barato. Ela contratou advogado e entrou com o processo que se arrastou na justiça desde então. O pedido de ¥1.95 milhão de indenização não foi acatado pelo juiz, embora a sentença tenha sido favorável ao pagamento por danos morais, discriminação de estrangeiros e ofensa aos direitos humanos.
Segundo uma reportagem do Jornal Mainichi, o internauta que deixou o comentário também alegou que os direitos destinados aos descendentes de coreanos, chamados de “zainichi” no Japão eram injustos e isto fazia com que os japoneses os odiassem.
Muitos coreanos vieram ao Japão na época em que o país vizinho foi ocupado pelos japoneses, entre 1910 e 1945, quando acabou a Segunda Guerra Mundial. Durante este período, não havia a atual divisão entre Coreia do Sul e Coreia do Norte e por isso muitos descendentes não sabem a origem exata de suas famílias.
Mas eles nasceram no Japão, cresceram no país e levam o japonês como idioma nativo. Há instituições destinadas a promover a cultura e o idioma coreano para esses descendentes e muitos estudam e se esforçam para retomar a conexão com a origem de seus pais ou avós.
Mesmo assim, o preconceito faz com que muitos descendentes de coreanos optem por usar nomes japoneses quando seus nomes verdadeiros são coreanos e evitem demonstrar suas origens para não sofrer preconceito no Japão. E era isso o que o artigo escrito por Natsuki, que contava a história do pai, explicava aos leitores.
Natsuki recebeu o comentário discriminatório ao postar a história do pai, filho de imigrantes coreanos. Reprodução / Huffingtonpost.
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Resposta do processo
Em coletiva em imprensa, Natsuki deixou claro que o objetivo do processo foi gerar consciência sobre o discurso de ódio contra estrangeiros ou nativos filhos de estrangeiros. Embora a lei japonesa não permita discriminação, muitos casos acontecem e passam despercebidos, muitas vezes longe dos tribunais pelo alto custo do processo ou as dificuldades do estrangeiro de tomar medidas.
Embora o valor tenha sido relativamente baixo, Natsuki considerou uma vitória ter o pedido acatado pelo juiz e um aviso claro para qualquer outra pessoa que pense que está tudo bem expressar opiniões discriminatórias.
“Liberdade de expressão não é o mesmo que liberdade para discriminar”, disse ela.
Por outro lado, o autor da publicação no Twitter não concordou com a acusação e tentou cancelar o pedido de indenização. Ele negou ter sido o responsável pelo comentário e também disse que não acredita que a postagem sobre o artigo da fotojornalista na rede social se trata de discriminação.