Tóquio – O chão tremer não é exatamente uma novidade para quem vive no Japão, um arquipélago situado sobre três placas tectônicas, que está acostumado e preparado para lidar com as ocorrências sísmicas.
No entanto, desde o mês passado, tremores mais intensos têm sido registrados e um fenômeno tem chamado a atenção dos próprios japoneses: os abalos duplos. Na noite da última segunda-feira (4), dois terremotos de intensidade 3 na escala japonesa (que cai até 7), com um intervalo de 1 minuto entre um e outro, foram sentidos em Tóquio e Chiba.
Segundo uma reportagem da emissora Fuji, o tremor de nível mediano não foi suficiente para causar danos, mas assustou famílias e crianças.
“Tremeu muito e eu fui dormir com a mamãe”, disse uma menina de 6 anos de Chiba. “Eu senti o tremor forte e fiquei com muito medo”, comentou uma jovem que vive em Tóquio, entrevistada pela reportagem.
E não foi só isso. Neste mesmo dia, a província de Ishikawa também registrou dois tremores, com intervalo de 2 minutos entre um e outro. O primeiro com magnitude 4.3 e o segundo, 4.1. Além disso, um tremor de intensidade 4 foi sentido em Fukushima no mesmo dia, provocado por outra movimentação de placas tectônicas.
O professor do Instituto de Pesquisa em Abalos Sísmicos da Universidade de Tóquio, Takashi Furumura, falou para a Fuji TV sobre os abalos duplos que estão se tornando frequentes.
“Trata-se de um fenômeno de terremotos induzidos. Quando acontece um terremoto, os abalos que estavam para acontecer nas proximidades são induzidos por aquele, e fica fácil acontecer um novo tremor em intervalo de minutos”, explicou.
Em japonês, este termo é chamado de “yuhatsu jishin” (誘発地震) e explica o que pode estar causando os tremores duplos registrados em províncias diferentes, apesar da coincidência. Outro fenômeno bastante comum é dos “tremores secundários”.
Após a ocorrência de um forte terremoto, outro de mesma intensidade pode acontecer na mesma semana e a região pode sofrer com mais abalos até nos meses seguintes. Foi o que aconteceu com Tohoku (nordeste do Japão) após o grande terremoto e tsunami de 2011. A região registrou aumento na atividade sísmica.
Outros abalos medianos também foram registrados nos últimos dias. No último domingo, foi a vez de Osaka sentir o tremor e no sábado, um abalo de mesmo nível atingiu a província de Ibaraki. Os especialistas estão analisando que, desde meados de março, a ocorrência de terremotos medianos aumentou em várias províncias japonesas.
Entre os tremores mais recentes está o forte terremoto de magnitude 7.3 e intensidade 5+ (forte) que atingiu Fukushima no dia 16 de março. O tremor chegou a provocar um alerta de tsunami para a costa da região de Tohoku, deixou vítimas, quase 100 feridos e provocou danos em casas e prédios públicos.
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A “regra de Vanuatu” sobre terremotos
O aumento de tremores medianos no arquipélago nipônico provocou uma movimentação nas redes sociais e um termo que chamou atenção em muitas publicações foi a “regra de Vanuatu” (Banuatsu no Housoku / バヌアツの法則).
Vanuatu é um país formado por 80 ilhas no sul do Oceano Pacífico. Em fevereiro de 2021, as ilhas longínquas do Japão registraram um tremor de magnitude 7.7 e, três dias depois, as províncias de Fukushima e Miyagi registraram um forte abalo de intensidade 6 na escala japonesa.
Em abril de 2016, foi a vez da província de Kumamoto, no sul do Japão, sofrer com dois fortes terremotos que deixaram mortos, feridos e muitos danos. Na verdade, 11 dias antes dos tremores acontecerem, Vanuatu sofreu um abalo de magnitude 6.
As ilhas estão a uma distância de 6.500 quilômetros do Japão e as coincidências foram o suficiente para criar um agito nas redes sociais. Muitas pessoas passaram a acreditar que quando há um tremor forte em Vanuatu, outro terremoto irá abalar algum lugar do Japão em poucos dias.
No entanto, o especialista Takashi Furumura acredita que isto não passa de um mito.
“Não acho que seja possível que um tremor em umas ilhas a 6.500 quilômetros de distância pode influenciar um terremoto no Japão. Não existe essa regra, mas quando empilha-se coincidências, as pessoas passam a acreditar e a se sentir preocupadas. Na verdade, são apenas dois países com muita incidência de terremotos”, esclareceu.