Quioto – Depois de uma certa idade, deixa de ser adequado ou socialmente aceitável seguir morando na casa dos pais, mas há diversas circunstâncias que levam para essa realidade.
Dificuldades financeiras para se mudar, a proximidade do trabalho com a casa dos pais, problemas de saúde ou a necessidade de auxiliar os pais que já são idosos.
No Japão, há muitos casos também de homens de meia idade que não conseguiram se adaptar ao estilo de trabalho de seu próprio país, não casaram e seguem vivendo com os pais mesmo depois dos 40 anos.
Mas a história que será relatada hoje é de uma japonesa de 32 anos que ainda não saiu da casa dos pais por empecilhos que a própria família colocou. O caso foi relatado em uma pesquisa realizada pelo portal All About, entre os dias 29 de maio de 12 de junho deste ano.
A pesquisa foi voltada para adultos que vivem com os pais e perguntou as razões para ainda não terem buscado uma vida independente da família. A mulher que respondeu é Mari*, ela tem 32 anos e vive em Kyotanabe, na província de Quioto, junto com os pais, na mesma casa onde cresceu.
Mari respondeu que trabalha e tem uma renda anual de ¥2,9 milhões e o pai ganha cerca de ¥3 milhões por ano. Ela gasta ¥20 mil de transporte por mês, outros ¥20 mil para passear e guarda mais de ¥50 mil na poupança mensalmente. A japonesa contou que não ajuda nas despesas da casa e já tem mais de ¥10 milhões guardados no banco.
A situação financeira de morar com os pais e não gastar do próprio bolso pode ser conveniente, mas ela também contou que há 10 anos pensa em ir morar sozinha, mas não consegue dar esse passo.
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A dificuldade de ir embora
Foto de Joshua Rawson-Harris na Unsplash (imagem ilustrativa).
De acordo com Mari, a mãe tem um pensamento que ela considera antiquado: quer que a filha fique na casa dos pais até que se case, mas não é esse o único motivo.
“Minha mãe tem uma certa fobia com a ideia de eu sair de casa e não me ver mais por aqui no dia a dia. Ela passou a ficar nervosa e preocupada só de eu começar essa conversa sobre morar sozinha, então eu fui ficando”, contou.
Mas a situação deve mudar em breve, Mari conseguiu convencer os pais e pretende sair de casa em dois meses.
“Eu penso em morar sozinha há 10 anos e continuo aqui, tentei convencer muitas vezes, mas não consegui que eles aceitassem e o tempo passou, cheguei aos 32 anos e continuo na casa dos meus pais. Se eu não tiver uma vida independente é difícil até mesmo conseguir um marido”, disse.
A ideia de que estar morando na casa dos pais aos 32 anos possa afugentar pretendentes acabou fazendo com que a mãe finalmente aceitasse.
A vida amorosa vivendo com os pais
Nestes anos em que se tornou adulta e seguiu morando com os pais, Mari contou que acabou incomodada com as cobranças, as regras da família e isso acarretou em uma vida de mentiras constantes.
“Toda vez que saio de casa eu tenho que dizer para onde vou e com quem. E se eu saio com homem, as perguntas são sobre o trabalho dele e onde ele mora. Eu comecei a querer evitar esse interrogatório e passei a dizer que vou sair com uma amiga ou que vou trabalhar quando tenho folga em dia de semana”, explicou.
Além disso, os pais de Mari querem que ela arrume um pretendente para se casar e acham que a filha está frequentando uma consultoria para casamento.
“Nesses últimos anos, passei a mentir que vou na consultoria ou em encontros arranjados por eles, mas na verdade estou conhecendo pessoas no Tinder e apenas tendo encontros casuais com homens, mas eles não contra relacionamentos por aplicativos e não podem saber disso”, explicou.
A vida de mentiras contadas para fazer o que quer em vez de seguir as expectativas dos pais deve acabar em breve e a família terá que conviver com o processo difícil de ver a filha saindo de casa e a famosa “síndrome do ninho vazio”.
*nome fictício.