Kakamigahara – A invasão russa na Ucrânia obrigou muitos nativos a deixarem suas terras, por causa dos riscos das explosões e ataques militares. Milhares de ucranianos migraram aos países vizinhos e se espalharam pela Europa, mas algumas famílias decidiram começar uma vida nova no Japão.
O governo japonês afrouxou as condições de imigração para os refugiados ucranianos e passou a aceitar a entrada dos nativos mesmo sem passaporte e a garantir visto de trabalho de um ano.
Em março, uma família se instalou na cidade de Kakamigahara, em Gifu. Eva Marich, uma menina ucraniana de 10 anos, veio ao Japão com a mãe Natalia (32), a tia Svitlana (38) e a irmã mais nova, Mia, de apenas 3 anos.
Natural de Kramatorsk, no leste da Ucrânia, a família enfrentou os temores da guerra e testemunhou a destruição da estação da cidade por um míssil russo. Eles vieram ao Japão em busca de segurança e melhores condições, mas o pai de Eva e Mia ficou na cidade natal. Ele é um policial e segue em atividade.
No último dia 16, Eva entrou para uma escola primária em Gifu, depois de dois meses estudando japonês e a irmã foi matriculada em uma creche local. Uma reportagem da emissora Fuji acompanhou o primeiro dia da nova aluna. Na hora de se apresentar para a turma, Eva disse o nome e cumprimentou os colegas em japonês.
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Rede de apoio para a criança ucraniana
Não é nada fácil começar uma vida nova em outro país, ainda mais de forma tão repentina e como consequência de uma guerra. Até fevereiro, Eva tinha uma vida tranquila em Kramatorsk e frequentava uma escola primária da região.
Ela mal podia imaginar que em tão pouco tempo estaria em um país asiático, aprendendo um novo idioma e começando do zero. Mas a rede de apoio local tem amenizado os receios da família. O “randoseru”, a mochila padrão que as crianças usam na escola, foi doada por um professor e a escola se esforçou para que ela fosse bem recebida.
Antes de ir para a escola, a mãe retirou os brincos das orelhas da filha, que ela usava desde os 11 meses. Brinco é um dos acessórios proibidos de acordo com as regras da escola.
Eva é uma menina alegre, que gosta de dançar e frequentava aulas de dança na cidade natal. Ela também gosta de aritmética e tem aprendido japonês rápido. No primeiro dia, já estava rodeada de crianças e fez novos amigos.
“Eu fico feliz de ver que ela veio ao Japão e está se divertindo. No recreio e quando tiver tempo que ajudá-la a aprender japonês”, disse uma colega.
Ao ver como foi o primeiro dia da filha, a mãe se tranquilizou.
“Ela foi bem na escola e acho que não preciso mais me preocupar. Eu estava pensando nela o dia todo, mas a Eva é uma menina forte e eu posso relaxar agora”, disse Natalia.
Natalia e as filhas conseguem ver e conversar com o pai por videochamadas e seguem em uma situação de incertezas, esperando para ver o desfecho das ações da Rússia na Ucrânia.