Kawanishi – A morte por excesso de trabalho é uma questão grave que assombra as empresas japonesas que não respeitam as leis trabalhistas. Mas desta vez, não foi uma empresa privada que se tornou alvo de um processo por suicídio.
A prefeitura de Kawanishi, uma cidade pequena na província de Yamagata, ao lado de Fukushima, foi processada pela família de um funcionário que cometeu suicídio em junho de 2016. Na época, o jovem de 25 anos atuava no Departamento de Planejamento para o Futuro (Mirai-zukuri-ka) e era responsável pelo gerenciamento das finanças.
Mas os projetos da prefeitura acabaram sobrecarregando o funcionário. Segundo o laudo do processo, divulgado em uma reportagem do Jornal Yomiuri, entre abril e junho daquele ano, o trabalhador estava com tantos afazeres que fez longas jornadas contínuas e ultrapassou o limite legal de horas extras, sem que houvesse nenhum controle sobre a execução da lei.
Ele desenvolveu depressão e em junho daquele ano, tirou a própria vida. Nos último mês antes do suicídio, o jovem teria totalizado 151 horas extras de trabalho. A prefeitura não tinha nenhum sistema que averiguasse a quantidade de horas trabalhadas e também não houve apoio para que ele conseguisse executar suas funções.
Em dezembro de 2021, o caso provocado pelo excesso de trabalho foi finalmente reconhecido como acidente de trabalho de funcionário público, de acordo com o Fundo de Calamidades para Funcionários Públicos Regionais.
No último dia 20, a família entrou com o processo contra a prefeitura e o caso será julgado em primeira instância pela Corte de Yamagata. A família está pedindo cerca de ¥112 milhões de indenização.
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Morte por excesso de trabalho
Estes casos lamentáveis são tão comuns no Japão que há um termo específico para isto: “karoushi”. A morte por excesso de trabalho pode acontecer nos casos de depressão e suicídio, mas não se limita a isto. Muitas vezes, o trabalhador que segue por longas jornadas contínuas e com pouco descanso, acaba morrendo de ataque cardíaco e outras condições de saúde.
Um caso notório foi o de Miwa Sado, uma jornalista que trabalhava na sede da emissora NHK em Tóquio e morreu em 2012 por falência cardíaca. A jornalista, de 31 anos na época, chegou a fazer 159 horas extras e tirou apenas duas folgas no mês em que acabou falecendo.
Outro caso de grande repercussão o país foi de Matsuri Takahashi, de 24 anos, que trabalhava no Departamento de Publicidade Digital da empresa Dentsu, a maior da área no Japão. A jovem que estava há pouco tempo na empresa tirou a própria vida depois de 105 horas extras e de ter desabafado inúmeras vezes com a família sobre os problemas no trabalho. O caso de 2016 fez o então presidente da Dentsu na época, Tadashi Ishii, abandonar o cargo como responsabilidade por não ter conseguido modificar a cultura de trabalho em excesso da corporação.
E por mais que os escândalos aconteçam, os casos não param e ainda há muitas empresas no país que fogem das imposições legais e não proporcionam um ritmo saudável de atuação para os funcionários.
Mas este problema não se limita ao Japão. No ano passado, um estudo global revelou que 745 mil pessoas morreram no ano de 2016 por doenças cardíacas relacionadas ao excesso de trabalho. O relatório apontou que as populações do Sudeste Asiático e do Pacífico Ocidental são as que mais sofrem com este estilo de vida perigoso.