Hachioji – Imagine conviver com um vizinho que deixa o lixo acumular até o segundo andar da casa. O jardim está coberto de sacolas, plástico, itens descartados, objetos quebrados e até mesmo lixo orgânico de restos de alimentos. O cheiro da montanha de lixo pode ser sentindo a metros de distância, há ratos, moscas, mosquitos e corvos ao redor.
A história poderia ser de um filme de terror, mas é a realidade de uma vizinhança na cidade de Hachioji, que fica próxima de Tóquio. Há quase 20 anos, um homem na faixa de 50 anos acumula lixo em sua casa e parece não descartar absolutamente nada para o serviço de coleta do bairro.
Os vizinhos já tentaram conversar, a prefeitura já o pressionou e depois de reunirem dinheiro no bairro para atividade de limpeza, o homem foi obrigado a se desfazer de seus resíduos. Porém, todas as tentativas de limpar a casa e trazer paz para quem vive na mesma rua acabaram indo por água abaixo.
O terreno passou por uma limpeza durante 14 vezes e mesmo depois de se desfazer de todo o lixo, o homem não hesitou em seguir com o mesmo comportamento. De acordo com os vizinhos, em um prazo de até 6 meses depois da limpeza, a montanha de lixo alcança as janelas do segundo andar e, mais uma vez, derrama-se pela calçada.
Um reportagem da Emissora Fuji que visitou o local, fez o seguinte comentário:
“O cheiro é impressionante. Mesmo de máscara a gente sente, fede e é difícil permanecer ao redor da casa”.
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A luta dos vizinhos contra a montanha de lixo
Os vizinhos estão fartos da situação da montanha de lixo, que vem se prolongando há anos e a única solução parece encontrar outro lugar para viver. Mesmo assim, quem pensa em sair da rua e ir morar longe do lixo encontrará dificuldades em vender sua casa nesta condições.
Um vizinho, que preferiu não ser identificado, explicou melhor a situação para a Emissora Fuji.
“Ele começou a acumular esse lixo por volta de 2005 ou 2006. Se você tiver uma montanha de lixo deste tamanho, algo pequeno já provoca um estrondo. Os ratos estão aí 24 horas por dia, é como se vivessem junto com ele. E o pior, na minha opinião, são os corvos que aparecem diariamente em busca de comida no meio desse lixo”.
Outro vizinho também comentou:
“Ele se importa se você parar na frente da casa, ficar observando ou comentando com outra pessoa. Já aconteceu de ele aparecer e gritar: ‘o que você está olhando?’, uma voz terrível e muito bravo. É assustador”.
O responsável pelo Departamento de Serviços Urbanos da Prefeitura de Hachioji, Tsuyoshi Kawauchi, tem acompanhado o caso e se sente de mãos atadas:
“A gente deixa tudo limpo, sem um pedaço de papel naquele pátio e meses depois, está tudo como antes. Já foram 14 tentativas de limpeza e tudo o que resta é conversar com o morador de forma mais firme, pressioná-lo para resolver o problema”.
O aspecto mais curioso da situação é a mentalidade que faz o homem conviver com a montanha de lixo e repetir esse comportamento, por mais que seja prejudicial a si mesmo e aos outros que convivem com ele na mesma região.
O professor de psicologia da Universidade Meisei em Tóquio, Yasushi Fujii, deu uma pista de como esse problema poderia ser resolvido de fato:
“É uma situação de autoabandono. Não é por que o terreno está limpo que alguém vai visitá-lo e ele provavelmente deixou de se importar ou sentir vergonha do que os outros acham ou pensam. Não há um envolvimento social, relacionamento com outras pessoas, acredito que uma socialização, acolhimento e cuidado com a saúde mental seria a saída para este problema”, sugeriu.