Tóquio – A ômicron, variante altamente contagiosa do coronavírus, tem sido um desafio de saúde pública para o mundo. O Japão, que implementou um dos sistemas de quarentena mais rigorosos para os viajantes que retornam ao país, também enfrenta as consequências da transmissão do vírus.
A capital japonesa, que chegou a passar dos 10 mil casos em um único dia na última semana, vem enfrentando uma projeção assustadora. De acordo com a emissora Fuji TV, especialistas estimaram que neste passo, até o dia 8 de fevereiro, a ômicron pode se aproximar de cerca de 1,4 milhão de pessoas na província.
Isto significa que 1 em cada 10 moradores de Tóquio pode acabar infectado. O governo do Japão tem feito todos os esforços possíveis para conter o vírus e considera o que mais pode ser feito sem provocar uma grande paralisação nas atividades sociais.
Recentemente, Hokkaido foi incluido na lista de províncias com restrições mais rigorosas, com limite de horário e número de pessoas que podem se encontrar em restaurantes, bares e outros estabelecimentos. Já são 18 províncias nesta situação.
Mesmo assim, as medidas atuais podem não ser suficientes para impedir que uma transmissão em larga escala aconteça. A variante tem se mostrado menos propensa a causar complicações de saúde, mas o poder de contágio é elevado e um único infectado pode passar para um grupo grande de pessoas que estejam no mesmo ambiente.
“Se a transmissão chegar a este ponto, pode ser que 1 em cada 10 pessoas que vivem em Tóquio tenham que paralisar suas atividades para tratar a doença. Se não olharmos para este ponto ao pensar nesta situação, podemos ter um grande problema social”, alertou o professor Takashi Tsuchiya, do Instituto Nacional de Pós-Graduação para Ciências Políticas (GRIPS, em inglês) em Tóquio.
Manutenção da estrutura social
O que é mais preocupante no momento é um possível cenário em que não seja possível manter a atividade social por causa do alto número de pessoas suspeitas de terem contraído o vírus.
Além disso, um alto número de infectados podem comprometer a capacidade dos hospitais, ainda que o vírus provoque sintomas mais leves na maioria. Quanto mais infectados, mais idosos e pessoas com fragilidade de saúde podem acabar precisando de internação.
De acordo com a emissora Fuji TV, no Hospital Universitário de Chiba, há 50 leitos disponíveis para os casos de coronavírus e 12 estão ocupados. Apesar de ainda ter bastante vaga, muitos médicos e enfermeiros estão afastados por terem contraído a covid-19.
“No momento são 11 profissionais de saúde infectados e eles não podem trabalhar. Deste jeito, aumentam também o número de pessoas que tiveram contato próximo e são suspeitas de terem contraído o vírus”, disse o médico Hidetoshi Igari, chefe do Departamento de Controle de Infecções da instituição.
E não é só isso. A creche dentro do hospital teve que ser temporariamente fechada por causa dos infectados. Nestas condições, cerca de 70 pessoas não estão conseguindo comparecer no trabalho. Se a situação continuar se agravando, é possível que não haja condições de manter os atendimentos médicos.
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Suspensão de creches pela ômicron
As escolinhas infantis também estão sendo muito afetadas pelo aumento de casos. Nas creches que ainda funcionam, há a medição de temperatura e esterilização das mãos todos os dias antes das crianças entrarem. Os pais estão em alerta, pois sabem que a creche pode acabar fechada a qualquer momento.
“Se chegarmos em uma situação em que não é possível trabalhar, vão ser muito complicado”, comentou uma mulher na faixa de 30 anos que mora em Tóquio e mãe de duas crianças.
O Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar Social vem divulgando a situação das creches. Até o dia 20 de janeiro, nas 27 províncias do Japão, havia 327 instituições infantis com atividades suspensas.