Tóquio – O Japão tem enfrentado uma crise com a comunidade vietnamita no país e o aumento crescente dos casos criminais envolvendo estrangeiros do sudeste asiático.
Uma reportagem do Jornal Sankei mostrou como vietnamitas mal intencionados estão utilizando as redes sociais e as comunidades dos nativos do país para divulgar “propostas de trabalho” que envolvem participação em golpes e outros crimes e ganhos elevados de dinheiro.
Em maio deste ano, a polícia da província de Nara identificou uma quadrilha de golpistas que utilizavam o Facebook para recrutar novos membros. O grupo se aproveitava da garantia de smartphones para perdas e danos, fingiam perder seus aparelhos e chegaram a receber até 20 celulares novos com o esquema (avaliados em ¥3,2 milhões).
A quadrilha era formada por 15 vietnamitas de 23 a 34 anos e todos atuavam no Japão como estagiários. O líder, um homem de 26 anos, reuniu os comparsas através da rede social e explicou sobre o contrato dos aparelhos e como acionar a garantia.
O líder, que também falava japonês com fluência, entrava em contato com a polícia para registrar a perda dos celulares e os documentos eram utilizados para que a empresa de telefonia providenciasse novos aparelhos sem custo.
Na sequência, eles vendiam os celulares para conhecidos ou em lojas de usados e ganhavam cerca de ¥100 mil por aparelho. O líder ainda cobrava ¥50 mil de cada membro que conseguia receber um aparelho novo pela garantia. De acordo com a polícia de Nara, houve participantes que repetiram o golpe diversas vezes, o que alertou a empresa.
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Aumento dos crimes em 9 anos
Foto de Alex Martinez na Unsplash (imagem ilustrativa)
Os dados da Agência Nacional de Polícia do Japão mostram que os crimes envolvendo vietnamitas no Japão triplicaram em um período de 9 anos. Em 2013, houve 1.1197 casos de denúncias e prisões e em 2022 foram 3.579.
As autoridades acreditam que parte da questão é o fato de que a comunidade cresceu muito por conta das ofertas de estágio que colocam os estrangeiros para trabalhar em serviços variados e fábricas. Por outro lado, há uma leitura de que a situação favorece a entrada ao mundo do crime.
Os nativos do sudeste asiático se submetem à condições de trabalho ruins, salários baixos, longas jornadas que muitas vezes passa longe da fiscalização. Soma-se a isso o fato de que a moeda japonesa desvalorizou, há dificuldades com o idioma e o sistema e ganhar uma renda extra pode se tornar uma necessidade.
Nas redes sociais, as propostas de empregos de má fé convidam qualquer interessado a participar, prometem serviços leves e fáceis com ganhos elevados. Em uma comunidade de vietnamitas, uma mulher de 32 anos que atua como estagiária em Wakayama posta diariamente propostas que envolvem obter celulares de forma ilegal ou a venda de cartões de residência falsos.
A polícia japonesa tem fiscalizado esses grupos e as publicações. Embora a maioria das pessoas simplesmente ignore as ofertas, há quem responda e também há interessados e inocentes que não percebem que se trata de crimes e acabam envolvidos.
Uma organização da província de Mie, responsável por regulamentar as empresas que contratam estagiários, recebeu um pedido de ajuda de uma vietnamita no ano passado. A mulher disse que seus dados pessoais estavam sendo utilizados por criminosos.
No ano passado, ela queria enviar dinheiro para a família no Vietnã e queria abrir uma conta bancária para isso, mas não sabia como proceder. A mulher acabou se deparando com um anúncio que prometia ajuda para abrir conta com facilidade pela internet e nisto, teve seus dados pessoais roubados.
“Há casos e casos, mas a gente percebe que muitos vietnamitas têm dificuldade com o idioma e muitos problemas cotidianos que não conseguem resolver. Eles tendem a acreditar facilmente em anúncios e promessas de conterrâneos nesses grupos e acabam envolvidos em crimes”, disse um representante da organização de Mie.