Fukuoka – O caso de uma menina de 2 anos que acabou morrendo após um tratamento para cárie em Fukuoka chamou atenção da mídia japonesa. Os pais de Noa Yamaguchi culpam o dentista por negligência com o estado de saúde da filha e levaram o caso aos tribunais.
A expectativa está em cima da sentença, que será declarada amanhã (25). A pequena Noa fez o tratamento em 2017 e morreu dois dias depois. Segundo os laudos do processo, divulgados em uma reportagem do Jornal Mainichi, o dentista aplicou uma dose de anestesia localizada, que tinha como componente principal o anestésico lidocaína.
Logo depois a condição de saúde da menina sofreu uma mudança repentina, mas o dentista não quis chamar a ambulância. A acusação explicou que os pais da menina disseram que ela estava estranha e a cor do rosto tinha mudado, mas o dentista teria dito que ela só estava com sono e não houve um tratamento emergencial adequado.
Depois de 50 minutos, o casal resolveu levar a filha em outro hospital. Ela foi hospitalizada e morreu dois dias depois por causa de uma isquêmia cerebral provocada por intoxicação de lidocaína.
O dentista acusado é Takashi Takada, ex-diretor de uma clínica de ddontopediatria na cidade de Kasuga, em Fukuoka. Ele está sendo acusado de negligência e erro na condução do tratamento, mas alega inocência por ter aplicado corretamente as doses e não ser um caso no qual seria possível prever esse desfecho.
Há duas questões em pauta no tribunal. A primeira é se seria possível prever ou imaginar a possibilidade de óbito da menina após a anestesia e se a atitude do dentista nos 50 minutos que se passaram após o tratamento teria sido capaz de salvar a vida da criança.
A questão é, se uma ambulância tivesse sido acionada imediatamente, a menina teria sobrevivido ou não? O dentista diz que como não teve sintomas claros como um choque anafilático, era uma situação “impossível de adivinhar” que a paciente precisava de atendimento médico emergencial e estava tendo uma reação.
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Opinião de especialistas
O caso é polêmico e ninguém sabe qual lógica será utilizada pelo juíz para dar a sentença amanhã. O Jornal Mainichi conversou com alguns especialistas em anestesia e odontologia, que deram opiniões diferentes.
Quando uma criança pequena passa por um tratamento dentário, é comum que haja uma resistência e ela se mexa muito, mas depois do tratamento, sente uma sonolência e se acalma. O quadro por si só parece comum.
Para o professor Katsuhisa Sunada, da Universidade Odontológica do Japão, parte do problema pode ser sido a falta de especialização do dentista na área da anestesia.
“Os dentistas aprendem a cuidar do paciente de forma geral, mas esse tipo de caso me parece que o tratamento foi difícil considerando que não é um especialista em anestesia dentária”, opinou.
Já o dentista Yoshiyuki Ishida, membro da Sociedade Japonesa de Anestesia Dentária, acredita que este foi um caso totalmente fora do comum.
“A lidocaína é muito utilizada no tratamento de cáries de crianças. Se não houve erro na quantidade aplicada, o óbito da menina foi um caso extremamente raro. Mas não houve a verificação da condição de saúde da paciente, então a decisão deste tribunal é algo de grande interesse”, disse.
O pai de Noa mostrou sua revolta no tribunal e pediu que o caso da filha seja levado com muita seriedade.
“Nós falamos muitas vezes que a Noa estava estranha e o dentista continuou insistindo que estava tudo bem. Ele nega sua responsabilidade e nós queremos que pense com mais seriedade no fato de que perdemos nossa filha. Não quero que dê as costas para o óbito da nossa menina e que o tribunal veja o caso com rigorosidade”, desabafou.