Miyazaki – Não é possível prever um terremoto com precisão, mas o Japão, que é um país dividido em três placas tectônicas e com ocorrência constante de abalos sísmicos, tem muitos institutos de pesquisa que tentam desvendar as forças da natureza e trazer informações relevantes sobre as possibilidades de determinadas regiões serem atingidas por terremotos gigantescos em um futuro próximo.
O objetivo é compreender quando um terremoto forte está para acontecer, preparar a população local com treinamentos e informações que possam ajudar na hora de um desastre repentino. Um forte tremor pode provocar um tsunami capaz de deixar um rastro de vítimas e destruição ainda maior., como aconteceu em Tohoku em 2011.
Em março deste ano, os pesquisadores japoneses refizeram a estimativa relacionada ao Mar de Hyuga-Nada, na província de Miyazaki (região de Kyushu, no sul do Japão). É esperado que a região sofra com um terremoto gigantesco, de magnitude 8, que pode chegar ao nível máximo de intensidade na escala japonesa.
Para fins de comparação, em setembro de 1923 a região de Kanto, nos arredores de Tóquio, foi surpreendida por um tremor de magnitude 7.9. O abalo deixou um rastro de mais de 100 mil mortos e desaparecidos, além de ter destruído mais de 109 mil construções.
A estimativa foi refeita pelo Comitê de Investigação de Terremotos do governo do Japão. Há 18 anos, a previsão era de um tremor de magnitude 7.6 e agora, os estudiosos acreditam que pode chegar ao nível 8 da Escala Richter.
Um dos motivos que provocaram esta estimativa tão desastrosa foi o avanço nas pesquisas referentes ao Terremoto e Tsunami Tontokoro, um grande abalo sísmico seguido por um tsunami, que foi registrado na costa de Hyuga-nada no ano de 1662.
O Posto de Observação de Miyazaki do Instituto de Pesquisa em Prevenção de Terremotos da Universidade de Quioto tenta compreender os mecanismos por trás dos terremotos em Hyuga-nada.
Os pesquisadores vem estudando os registros detalhados do terremoto de 1662, o depósito de tsunami provocado pelo evento sísmico e os terremotos lentos na região (este fenômeno se caracteriza pela liberação de energia durante semanas ou meses, diferente da ocorrência de segundos de um tremor comum).
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Depósito de Tsunami formado após terremoto gigantesco
Um dos marcos da pesquisa aconteceu há três anos, quando o time coordenado pelo professor Yusuke Yamashita descobriu um depósito sedimentar, provocado pelo tsunami de Tontokoro, há mais de 300 anos.
“Encontramos na região de Komei, na cidade de Nichinan em Miyazaki, uma terra de cor diferente. A 500 metros da costa e em uma elevação de 7 metros havia resíduos trazidos pelo mar no tsunami de 1662”, explicou.
Nos estudos de terremotos, isto influencia fortemente nas expectativas.
“O que encontramos dentro das camadas e marcas da sedimentação, do ponto de vista detalhado da sismologia, foi um dos pontos que nos fez refazer a estimativa de que a região deve enfrentar um tremor de grandes proporções, chegando a magnitude 8”, disse.
Mas os estudos ainda estão em andamento. As conclusões podem ajudar a proteger a população e tomar medidas que reduzam os danos quando o dia chegar. Isto poderia ter acontecido em Tohoku antes de 2011, mas não houve tempo.
“Em Tohoku, tornou-se público o fato de que a região havia enfrentado tremores gigantescos no passado e não tínhamos conhecimento disso. Os dados seriam utilizados para pesquisas do governo, mas o terremoto veio em 2011 e não tivemos tempo suficiente para isto”, contou.
Se tivesse sido possível fazer uma previsão realista para Tohoku antes da ocorrência do terremoto seguido de tsunami que devastou a região, o governo japonês poderia ter planejado ações que trariam algum resultado do ponto de vista da prevenção e poderiam ter reduzido os danos.