Yokohama – Muitos estudantes universitários no Japão estão sofrendo com solidão e falta de motivação para continuar os estudos.
Quem terminou a escola no ano anterior à pandemia e guardava expectativas para a vida universitária a partir de 2020, acabou sofrendo uma grande decepção por conta da disseminação do novo coronavírus.
No Japão, uma reportagem do portal Maidona News ressaltou que a situação dos estudantes universitários tem se agravado. Muitos jovens deixam a casa dos pais para viver sozinhos em apartamentos pequenos ou em dormitórios na cidade da universidade.
Então frequentam o campus quase todos os dias, fazem novos amigos, particpam de clubes de atividades, confraternizações, festas e programas de intercâmbio.
No entanto, desde que a pandemia iniciou em março do ano passado e a situação de transmissão do novo coronavírus precisou ser contida o máximo possível, muitos jovens acabaram trancados nos apartamentos, assistindo aulas online e aguardando o retorno das atividades presenciais.
Depois de mais de um ano de pandemia, os estudantes ainda não conseguiram experimentar a vida universitária como deveria. Sem oportunidades de fazer amigos, o cenário que se instalou foi de solidão, desilusão e perda da motivação com os estudos.
Solidão de estudantes
Natsumi (nome fictício), é uma jovem universitária de 19 anos, que está no segundo ano da faculdade na província de Kanagawa.
Ela precisou se mudar de outra região do Japão para Kanagawa, onde passou a viver sozinha para frequentar as aulas na universidade.
O problema é que, desde que ingressou na faculdade, Natsumi quase não teve a oportunidade de estar em uma sala de aula presencial.
A cerimônia de entrada no curso foi cancelada na primavera do ano passado e as aulas online logo começaram. A estudante precisa realizar as atividades em casa, entregar relatórios e quase não vai ao campus.
Por causa das circunstâncias, ela acabou voltando para a casa dos pais e passou a estudar online de lá, já que não havia sentido em estar perto da faculdade.
“No verão passado, houve um anúncio de que as aulas presenciais seriam retomadas a partir de setembro, então voltei ao apartamento no fim de agosto. No entanto, os casos aumentaram e as aulas continuaram online e sem previsão”, lamentou.
Natsumi conta que entende a situação da pandemia e a necessidade de evitar aglomerações. No entanto, sente incoerências por parte da faculdade, que tem evitado as salas de aula, mas permite que os clubes de atividades esportivas realizem seus treinos normalmente.
“Eu entendo que há mais pessoas nas salas do que nos clubes, mas se for pensar no risco de contaminação, acho que é maior no clube. Por que eles podem se encontrar?”, questionou.
O isolamento prolongado, a solidão e a falta de amigos na cidade nova fez a estudante se sentir desmotivada.
“Não consigo fazer amigos e aproveitar a vida no campus. Deste jeito estou preocupada com a minha saúde mental e sinto que não houve sentido em entrar na faculdade”, desabafou.
Para estudantes como Natsumi, o pior é a falta de perspectiva para que as atividades voltem ao normal.
Depois de mais de um ano e com o surgimento de variantes do vírus, aumento de casos e estado de emergência nas províncias japonesas, não há sinais que indiquem quando a pandemia deve acabar e a vida tem se tornado cada vez mais online e distante.
Abandono da faculdade
A solidão e incapacidade de aproveitar a vida universitária também pode ser a causa do abandono dos estudos no último ano.
O Ministério da Educação (MEXT) divulgou no início do ano que 1.367 estudantes desistiram de seus cursos nas universidades japonesas entre os meses de abril e dezembro de 2020.
Muitos jovens que abandonaram os estudos realizaram consultas particulares antes de tomar a decisão. O governo conseguiu identificar que, além da problemática dos estudos online fora da sala de aula, a pandemia também trouxe dificuldades financeiras.
Muitos pais de alunos sofreram perda de renda e desemprego, o que tem afetado o pagamento das despesas com os estudos.