Fukuoka – Não são raros os casos de golpes por telefone que focam na vítima idosa. Os criminosos sabem que as pessoas de mais idade tendem a ser solitárias, sentem necessidade de conversar e querem ser úteis aos outros. Elas também acreditam mais fácil nas histórias que ouvem.
Mas nem sempre o golpista consegue cumprir seu objetivo de tirar dinheiro da vítima e em alguns casos, outras pessoas se envolvem na história e conseguem abrir os olhos de quem está prestes a entregar as economias nas mãos de um criminoso.
Foi o que aconteceu na cidade de Fukuoka, no sul do Japão. Um taxista de 68 anos, com mais de 40 anos de carreira transportando passageiros na região de Hakata, conseguiu impedir uma cliente idosa de entregar ¥3 milhões nas mãos de um bandido.
Em uma reportagem do jornal Mainichi, o taxista foi identificado como Kazuyoshi Matsue. Ele contou que está acostumado a transportar passageiros com mais de 80 anos. O taxista, que já está aposentado, pega o táxi apenas nos dias úteis e a maioria dos clientes das corridas é idoso que precisa ir em uma consulta ou fazer compras.
Mas neste dia, quando uma senhora na faixa de 80 anos subiu no táxi e começou a conversar, Matsue logo percebeu que havia algo de errado.
A conversa com a idosa e a solidão
Os idosos que entram no táxi de Matsue costumam ser solitários, convivem com poucas pessoas e quando tem uma oportunidade de conversar, mesmo que seja alguns minutos com o motorista que mal conhece, não desperdiçam.
É normal que contem detalhes do que estão fazendo, abram o coração e aproveitem aqueles minutos de interação humana. No dia em que a idosa subiu no táxi, Matsue começou a conversar e ela logo contou o que estava acontecendo:
“A minha amiga Oi, que eu não vejo há dois ou três anos, de repente me ligou! Ela perdeu a bolsa que estava com o celular, a carteira e documentos importantes e ela disse que agora precisa depositar ¥3 milhões para a empresa e pediu para eu tirar o dinheiro e entregar a ela”.
Assim que ouviu o relato, Matsue percebeu o golpe. Mas o que mais surpreendeu foi a reação da idosa ao saber que a história provavelmente era mentira.
“Qualquer um que ouvisse isso perceberia que é um golpe por telefone. Eu disse a ela para irmos no posto policial, mas ela se calou e depois me disse que tudo bem ser enganada. Eu olhei para ela pelo espelho, vi pela triste expressão em seu rosto o quanto era sozinha e senti uma dor no peito”, contou.
A idosa queria ir ao caixa eletrônico, mas Matsue a convenceu de que era melhor checar se a pessoa no telefone era mesmo a amiga, e o caixa eletrônico ela poderia ir a qualquer hora. Eles acabaram passando no posto policial, a passageira ligou para um familiar e entendeu que a ligação era mentirosa.
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O problema da solidão
Um dia depois do ocorrido, a reportagem do Jornal Mainichi conversou com a idosa. Ela disse que sai duas vezes por semana para o “day service” (serviço de auxílio aos idosos nas necessidades do dia a dia). Fora este compromisso, não tem muitas interações com a comunidade local e vê o filho, que mora em outra província, uma vez por mês.
Ela também disse que sabia sobre a ocorrência de golpes por telefone, mas não percebeu e não teve tempo de pensar, a conversa foi rápida demais. Mesmo assim, pareceu não acreditar que tenha mesmo conversado com um membro de quadrilha.
“Eu acho que foi mesmo a Oida que me ligou, mas o motivo de precisar de dinheiro certamente é mentira”, disse. Foi por isto que ela falou que “tudo bem ser enganada”, achava que a amiga tinha ocultado a razão pelo qual precisava do dinheiro, mas era uma amiga mesmo assim.
Mas no dia seguinte, mais consciente de ter sido enganada, a idosa voltou a subir no táxi de Matsue e desta vez e agradeceu por tê-la ajudado antes que acabasse entregando ¥3 milhões nas mãos de alguém.