Osaka – Durante o ano de 2020, 118 empresas que fornecem serviços de cuidados aos idosos abriram falência no Japão, de acordo com os dados da empresa Tokyo Shoko Research.
Este é o maior registro até então e a situação dessas empresas têm se agravado por várias questões relacionadas à pandemia.
Uma reportagem da emissora Kansai TV mostrou as medidas que organizações que cuidam de idosos têm tomado para evitar a transmissão e proporcionar um ambiente seguro aos usuários.
O problema é que essas medidas têm saído caro para as instituições e mesmo assim, muitos idosos estão preferindo evitar os serviços na medida do possível, por medo de acabarem infectados.
Em Osaka, a instituição Record Book Mikunihonmachi implementou um verdadeiro ritual preventivo. Quando o idoso chega ao local, é orientado a lavar as mãos e a fazer um gargarejo.
Depois disso, a temperatura é medida antes de iniciar alguns exercícios físicos.
As bolas e acessórios que são utilizados em atividades de ginástica são esterilizados logo em seguida. Uma faxina também é realizada cada vez que alguém usa o banheiro.
“Eu costumava frequentar uma ginástica voltada aos idosos, mas as atividades estão suspensas por causa do coronavírus. Para nós da terceira idade, só sobrou este lugar nesta região onde nos encontramos, que é indispensável para a nossa saúde”, disse um senhor de 83 anos.
No entanto, a administração vem sendo pressionada pelos gastos elevados.
Para prevenir a contaminação, é necessário adquirir álcool gel e desinfetantes em grandes quantidades, além de muitos rolos de toalhas de papel. A empresa também teve que adquirir circuladores de ar para renovar o ar dos ambientes internos e já totalizou gastos acima de ¥500 mil.
O governo fornece uma ajuda financeira, mas há um limite de ¥384 mil de acordo com o tipo de negócio, o que não tem sido suficiente para cobrir as despesas extras.
“Estamos tendo mais saída do que entrada de recursos. Os desinfetantes, as máscaras e outros produtos necessários para a prevenção precisam ser adquiridos em grandes quantidades. Deste jeito, está cada vez mais difícil gerenciar o negócio”, lamentou Yasuko Tamiya, diretora da Record Book.
Idosos isolados
Outra questão que tem levado instituições voltadas aos idosos a abrir falência no Japão é o fato de que muito usuários estão evitando os serviços para reduzir os riscos.
Por medo de acabar infectado, muitos deixaram de utilizar os chamados serviços de um dia (day service), ou reduziram o número de vezes mensais em que utilizavam.
Shoichi Matsumoto, de 78 anos, disse à emissora Kansai TV que desde que a província de Osaka entrou em estado de emergência em janeiro, não frequentou o serviço nenhuma vez.
“Eu moro sozinho e fico muito preocupado em acabar infectado. Por causa da situação atual, provavelmente não conseguiria me internar de imediato. E acho que poderia ter os sintomas agravados facilmente, sou portador de diabetes e doença cardíaca. Não sei o que faria se fosse orientado a me tratar em casa, sou eu que faço tudo sozinho, a comida e a limpeza”.
Dos 118 casos de falência de 2020, quase metade são de instituições que ofereciam o serviço de cuidados através de visitas a domicílio, algo impossível de ser realizado sem o contato próximo com o paciente.
Segundo o professor da Universidade Toyo e especialista em cuidado com idosos, Tatsuaki Takano, a falência dessas instituições pode significar uma pressão ainda maior sob os hospitais, agravando a crise de saúde pública atual.
“Com um menor número de serviços aos idosos disponíveis, a tendência é que muitos idosos procurem hospitais quando não se sentirem bem e acabem internando, o que provocaria uma sobrecarga nas instituições. A quebra dos serviços de cuidadores pode causar também a quebra dos serviços gerais de saúde”, alertou.