Fukuoka – O comércio japonês, especialmente no sul do país, tem disponibilizado para a venda kits de teste de antígeno, que prometem verificar se o usuário está ou não contaminado pelo novo coronavírus em poucos minutos.
Uma reportagem da emissora Nishinippon Corporation (TNC) mostrou que, de acordo com fontes do governo japonês e especialistas, estes testes possuem baixa eficácia e o uso individual pela população comum pode ser perigoso.
O Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar Social do Japão aprovou 19 testes deste tipo, que estão sendo utilizados por prefeituras, escolas e instituições de idosos.
Nenhum destes testes foi autorizado para venda comercial e os que estão disponíveis no comércio não possuem o reconhecimento do órgão.
A cidade de Koga, na província de Fukuoka (sul do Japão), recebeu cerca de 1000 kits rápidos, fornecidos por uma farmecêutica. Os testes foram aprovados pelo governo e devem ser distribuídos em algumas instituições.
“No caso do PCR, a amostra é enviada e testada em um equipamento especial, que dá um resultado mais preciso. Estes kits revelam o resultado em 15 minutos e são relativamente baratos, com custo de cerca de ¥3 mil por unidade”, explicou Hideaki Nagasaki, servidor da prefeitura de Koga.
Os testes devem ser utilizados estrategicamente pela prefeitura, considerando os casos de surtos locais.
“Vamos distribuir gratuitamente em escolas e lares de idosos. O objetivo é testar os funcionários que não tiveram contato próximo com os infectados e não se enquadram na obrigatoriedade do exame”, disse.
Os testes aprovados pelo governo foram fornecidos para a prefeitura e instituições médicas, mas não foram disponibilizados para a venda no mercado e há um motivo especial para isto.
Leia também: Em meio a crise do coronavírus, falência de empresas que cuidam de idosos bate recorde no Japão.
RIscos do teste
O teste rápido não deve ser utilizado de forma individual, mas como um teste de apoio em ações coordenadas de saúde.
Como é o caso de um paciente que passou por consultas médicas e então faz o teste para reforçar o diagnóstico, ou alguém que teve contato com um infectado, mas não próximo o suficiente para ter o teste PCR recomendado pelas autoridades.
De acordo com o Ministro de Estado para Missões Especiais do Governo do Japão, Shinji Inoue, a população deve tomar cuidado ao se deparar com a venda deste tipo de teste em lojas comuns.
“Não há garantias quanto a eficácia. Nós pedimos para que a população não os utilizem para fazer um auto-diagnóstico sobre estar ou não com o vírus”, alertou.
Além de pouco eficaz, o uso individual do teste pode ser perigoso, pois induz o usuário a tomar menos cuidado, aumentando assim o risco da disseminação do vírus.
“O teste vem sendo utilizado fora do meio médico, como se fosse um produto comum para o uso diário. Do ponto de vista médico, usar este teste desta forma é extremamente perigoso”, disse o professor Atsushi Mizoguchi, da Universidade Kurume em Fukuoka.
Um homem que comprou o teste em uma loja e deu entrevista para a reportagem acabou confirmando os perigos mencionados.
“Eu comprei em uma loja de DVD. Como há pessoas infectadas por perto, achei melhor checar se não estou contaminado. O resultado foi ‘negativo’ e eu fiquei mais tranquilo. Agora ficou mais fácil sair para fazer compras”, contou.
O perigo está justamente nesta sensação de “tranquilidade” ao se deparar com um resultado negativo do teste rápido.
“O mais assustador é isto mesmo, baixar a guarda porque o resultado deu negativo. A pessoa pode estar de fato infectada, mas o resultado errado do teste rápido a faz pensar que não, então ela sai sem preocupações. Isto acaba por disseminar ainda mais o vírus”, explicou Mizoguchi.