Tóquio – Nem todo mundo que acessa um aplicativo de namoro está interessado em relacionamento sério. Muitos só querem curtir e passar alguns momentos com alguém e nesta categoria também estão aqueles poucos comprometidos com a verdade. Algo que é quase uma brincadeira em muitos lugares, surpreende por ser um crime no Japão.
Muitos usuários mentem sobre suas características físicas, idade, renda e também profissão. Mas no Japão, a conversa fiada do aplicativo pode ter consequências inesperadas. O país tem um código de leis que enquadra os chamados “crimes leves” (kei-hanzai-hou) e na lista há delitos que, em outros países, não são considerados crimes.
A maioria dos delitos da lista, quando cometidos e denunciados, resulta em uma multa, que pode ser de ¥10 mil nos casos mais leves ou em prisão inferior a 1 ano. Mas, para os estrangeiros, os riscos são maiores do que para os japoneses, que já que um delito ainda que pequeno pode prejudicar a renovação do visto.
Em uma reportagem para o portal Radio Kansai Topics, o advogado Keisuke Morimoto, do Escritório de Advocacia Kanae em Kobe (província de Hyogo), informou sobre alguns delitos que podem facilmente ser cometidos por um desavisado. Entre eles está o ato de dar declarações falsas sobre determinados tipos de profissões.
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Fingir ser médico ou advogado
Keisuke alertou para o item 15 da lista de crimes leves, que fala sobre fingir ter uma profissão sem ter qualificação ou um cargo público que não tem.
“A lei diz que é crime o ato de dar uma declaração falsa sobre ter uma profissão referente a um cargo público ou de alto escalão ou ainda que seja legalmente regulamentada, o que é o caso de médicos e advogados. Fingir ser um funcionário público, um policial, membro do governo, um médico ou advogado se enquadra nesta lei”, explicou.
Por via das dúvidas, é melhor não fingir ter uma profissão que não tem. O risco de dar um problema judicial é baixo, mas pode acontecer se a vítima da mentira se sentir prejudicada de alguma forma ao descobrir a verdade e decidir levar o caso adiante.
Um caso notório aconteceu em 1976, quando um juíz fez uma ligação ao então primeiro-ministro Takeo Miki, fingindo ser um promotor-geral.
Se vestir como um policial autêntico é crime no Japão
Além de dar declarações falsas sobre profissões, a lei também considera como crime no Japão se uma pessoa comum se vestir como um policial autêntico. Se a pessoa estiver fantasiada de policial em uma festa a fantasia e for tão realista a ponto de ser confundindo com um policial em atividade na rua, o caso pode acabar em uma multa ou prisão.
Para algo muito fora da realidade, mas pode acontecer principalmente na época de Halloween, quando muitas pessoas saem nas ruas e locais públicos do Japão fantasiadas e participam de festas. Em geral, fantasias como de policial ou bombeiro não costumam ser muito realistas, mas se um jovem filho de um policial de verdade pegar a farda do pai para se fantasiar, por exemplo, o caso pode ter um resultado inesperado com a polícia verdadeira.
“É pouco provável que uma pessoa acabe presa por fingir ser um advogado em um aplicativo de namoro ou por se fantasiar como um policial de verdade em uma festa de Halloween. Mas é bom ter consciência de que mentiras contadas com um sentimento de brincadeira podem prejudicar a própria pessoa e causar um problema judicial inesperado”, alertou.