Osaka – Hiroyuki (nome fictício) é um menino de 11 anos, que está no 6° ano de uma escola no Japão. A instituição de ensino primário fica na cidade de Sakai, província de Osaka.
O menino japonês não frequenta as aulas há mais de dois anos por ter sido vítima de bullying envolvendo uma professora.
Quando estava no 4° ano, Hiroyuki escreveu uma triste mensagem em resposta a uma tarefa escolar, em que devia escrever algo sobre a escola para colar no mural do bairro, como se fosse um jornal dos estudantes.
O menino então escreveu um desabafo que não chegou a ser entregue, pois na época já não estava mais frequentando a escola:
“Esta escola é a pior de todas, pois esconde o bullying. Não há nenhum motivo para isso, a não ser o fato de que a escola é ruim. E por causa disso eu não vou mais assistir aula”
Esta história foi relatada e publicada pelo portal Bunshun Online. Veja os detalhes de como o caso evoluiu até que o garoto não conseguisse mais frequentar a escola.
Problemas com a professora
O caso de Hiroyuki não era de bullying envolvendo outras crianças, mas a professora responsável pela turma de sua escola no Japão.
Por causa de repressões severas da professora, o menino passou a ficar com medo até o problema evoluir ao ponto de não querer mais ir para a aula.
A gota d’agua ocorreu em um treino de vôlei, quando Hiroyuki estava no 3° ano do primário. Quando um colega jogou a bola ao garoto, ele recebeu com a cabeça e no mesmo momento, a professora gritou:
“Se não for levar a sério, não precisa jogar”.
Aquilo fez as emoções do menino transbordarem, depois de outros episódios, como ter sido ridicularizado no dia de ajudar com a merenda ou ignorado na hora da prova, quando levantou a mão para avisar que a borracha caiu no chão.
Hiroyuki não foi em uma excursão marcada no dia seguinte ao jogo de vôlei. Depois disso, o menino voltou para a escola, mas ficou assustado quando foi abordado no corredor pela professora.
“Por que não foi na excursão?”, ela perguntou. Yuriko (nome fictício), a mãe de Hiroyuki, havia avisado pelo telefone sobre a falta do filho, por causa dos problemas com a professora responsável pela turma.
“Ela sabia que a culpa era dela e o meu filho foi para a escola sabendo que a professora sabia disto. Ele ficou com muito medo e não respondeu. Ela insistiu e ele mentiu que estava gripado. A professora fez uma cara feia e foi embora”, contou a mãe.
Episódios repetidos
Durante vários meses, o menino sofreu com repressões, palavras duras e até episódios em que foi completamente ignorado pela professora ao precisar de algo.
Aos poucos, desenvolveu uma fobia da escola e em algumas tentativas de ir, chegou a passar mal e vomitar.
Um episódio marcante ocorreu quando o menino ficou responsável por ajudar na merenda. O serviço era feito em dupla, mas o colega que deveria ajudá-lo faltou no dia e Hiroyuki pediu para a professora pedir ajuda de outro colega.
Neste momento, foi ridicularizado. “Você não é capaz de carregar sozinho?”, ela debochou.
“O professor anterior era muito positivo e perguntava para a turma se alguém poderia ajudar quando o responsável faltava. Essa professora não perguntou. Ela já não tinha uma imagem boa e no ano anterior estava sendo culpada por algumas crianças terem parado de ir para a escola também”, relatou Yuriko.
O episódio da borracha que o garoto deixou cair durante uma prova também causou efeitos. A regra da turma era que os alunos levantassem a mão se acontecesse qualquer coisa durante o exame.
Ele levantou a mão para pedir para pegar a borracha, mas foi ignorado mesmo quando os olhos dele se cruzaram com os olhos da professora.
“Ele ficou com muito medo de ser acusado de estar colando. Quando iniciou o segundo semestre, a professora começou a ignorá-lo várias vezes e até os colegas falaram que ela estava sendo ruim com ele”, disse Yuriko.
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Escola no Japão
Quando Hiroyuki passou para o 5° ano da escola primária sem conseguir retomar a rotina escolar, Yuriko começou a insistir para que uma investigação interna fosse realizada sobre o caso.
De acordo com a Lei de Prevenção ao Bullying (chamado de ijime), quando um aluno deixa de frequentar as aulas por causa de bullying, o caso deve ser tratado com prioridade pela escola no Japão e o Comitê de Educação do município devem investigar.
No entanto, neste caso específico, uma brecha da lei foi aplicada para que o caso permanesse sem investigações ou relatórios.
Hiroyuki não estava frequentando as aulas por causa de bullying cometido pela professora e a lei tem como premissa a ocorrência do “ijime” entre as crianças. Ser prejudicado por um professor está simplesmente de fora desta legislação.
No fim das contas, mesmo quando ocorreu a troca do professor responsável, Hiroyuki continuou sem conseguir retornar para a escola.
Houve uma tentativa, mas se sentiu mal por causa de tremores psicológicos e vomitou. Foi para na enfermaria e na secretaria e pediu para ir embora, mas os funcionários disseram para ele “se esforçar mais um pouco”.
O problema persiste por mais de dois anos e a família do garoto não sabe se ele terá condições psicológicas para retomar a rotina escolar antes da formatura.
“Mesmo agora, ele passa mal só de passar pelo caminho que fazia para a escola, vomita e sente dores de cabeça. Ele emagreceu e hoje eu penso que eu poderia ter feito mais como mãe, poderia ter dito antes a ele que não precisava ir para a escola”, lamentou Yuriko.