Osaka – A província de Osaka está tendo que lidar com um cenário caótico de falta de leitos hospitalares para pacientes de covid-19.
Por causa do número elevado de asilos registrando surtos da doença, muitos idosos estão sendo tratados nas próprias instituições e alguns acabam morrendo sem ter tido a chance de receber um tratamento adequado no hospital.
Entre os meses de março e maio, 102 lares de idosos registraram surtos da doença na província. Um total de 25 idosos morreram de covid-19, enquanto recebiam tratamento médico em seis instituições.
Outras 18 pessoas morreram em casa, por causa da falta de leitos disponíveis para internar.
A emissora Kansai TV transmitiu uma reportagem com o médico Katsuya Watanabe, de 46 anos, que trabalha no Hospital Ikuno Aiwa na cidade de Osaka. Watanabe e duas enfermeiras estão visitando os lares de idosos para tratar os pacientes de covid-19 que não conseguem internação.
Atualmente, o médico está cuidando de 10 pacientes nestas circunstâncias. Pelo menos metade está em um quadro de saúde que exige mais do que é possível fazer dentro do asilo.
“Nós conseguimos conectar dos aparelhos de oxigênio e fornecer 10 litros para o paciente, mas se o quadro de saúde for ruim, o doente sofre com insuficiência respiratória. Se fosse no hospital, poderíamos fornecer 15 litros e se não for suficiente, podemos optar pela intubação”, explicou.
Watanabe tem avisado o Centro de Saúde sobre os casos que necessitam de internação, mas não consegue obter uma resposta rápida.
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Quarta onda de covid-19
A província de Osaka está em uma fase difícil por causa dos casos elevados da doença, o número de pacientes que precisa de internação e os óbitos diários. Desde que a pandemia começou, a província já registra quase 100 mil casos e 2.299 mortes, segundo o levantamento da emissora NHK.
No domingo (30), foram 8 óbitos e 197 novos casos confirmados. O número de infectados em 24 horas ficou abaixo da margem de 200 pela primeira vez em dois meses.
Por causa da rotina de visitas nos lares de idosos para tratar os pacientes, Watanabe tem feito o exame PCR até três vezes por semana e tem tomado cuidados extras.
“Desde que comecei a fazer as visitas aos pacientes eu não entro dentro do hospital. Quando preciso esperar o próximo atendimento, eu passo o tempo dentro do carro”, contou.
Depois de mais de um ano de pandemia, o médico diz que está surpreso com a situação atual, muito mais grave do que no ano anterior.
“A quarta onda está terrível. Estamos sofrendo muita pressão e tem sido cruel. Este cenário de falta de leitos eu não tinha visto até agora. Nunca passei por esta experiência antes na minha carreira e infelizmente esta é a realidade agora”, desabafou.
A rotina tem sido um malabarismo entre o Centro de Saúde, as famílias dos pacientes e os lares de idosos, que dependem das instruções de Watanabe para saber como lidar com os doentes.
“É preciso conversar com o centro e com a família do paciente. Assim que o resultado sai positivo, informamos a família que há mais opções para internação caso não tenha exigência de uso de ventilação mecânica ou o ECMO (membrana de oxigenação extra corpórea). Como muitos querem priorizar a internação do familiar, aceitam nestas condições e verificamos as possibilidades”, diz.
O problema é que a falta de leitos é generalizada. Mesmo no caso de internação sem os equipamentos que podem ser necessários para salvar a vida do paciente, não é possível internar de imediato.
Muitos acabam morrendo enquanto esperam por uma vaga no hospital.
“Eu me sinto paralisado quando perdemos um paciente nestas condições”, diz Watanabe. Desde que começou a cuidar dos doentes que não estão no hospital, ele já passou por três óbitos.