Em meio à enxurrada diária de mensagens no Line, vídeos do YouTube e curtas do TikTok, o smartphone se tornou uma extensão do nosso corpo — mas esse hábito pode estar cobrando seu preço. Médicos japoneses alertam para o crescente número de pessoas que desenvolvem o chamado “sumaho yubi”, ou “dedo de smartphone”, uma condição que, embora não seja um diagnóstico médico oficial, está associada a tendinite, artrite e outras dores nas mãos e punhos.
Segundo Tatsunobu Ikeda, médico chefe da Clínica Ortopédica e de Reabilitação Higashi-Shinjuku, “usar um smartphone com uma mão por longos períodos, rolar e digitar repetidamente apenas com o polegar coloca grande pressão nos tendões e articulações. A maioria dos casos que atendemos está na faixa dos 20, 30 e 40 anos, e o número de pacientes tem aumentado.”
Uma pesquisa recente do fabricante de acessórios para smartphones Sprasann, com 500 participantes com 10 anos ou mais, revelou que quase 90% dos usuários japoneses já sofreram problemas ortopédicos diretamente ligados ao uso constante do celular. Dores nos dedos e pulsos são as mais comuns, mas o uso excessivo do telefone também pode gerar desconforto no pescoço, ombros e cotovelos.
O estudo ainda aponta que 76% dos usuários passam mais de duas horas por dia no smartphone, e 10% chegam a mais de seis horas. Embora duas horas diárias pareçam pouco, isso equivale a 730 horas por ano — quase um mês inteiro dedicado apenas ao celular.
O uso prolongado também aumenta os riscos de condições graves, como a síndrome do túnel do carpo, causada pela compressão de um nervo no punho, e a síndrome de De Quervain, uma tendinite dolorosa no lado do polegar do pulso. Dados do governo mostram que, em agosto de 2024, 90,5% dos lares no Japão possuíam pelo menos um smartphone, o que evidencia o potencial de exposição ao problema.
O médico Ikeda recomenda atenção: “Procure um especialista se a dor for intensa, durar mais que alguns dias, atrapalhar suas atividades ou sono, ou se houver inchaço, vermelhidão ou sensação de queimação.”
O tratamento inicial inclui imobilização com talas ou bandagens, medicamentos anti-inflamatórios, injeções de esteroides, fisioterapia e exercícios de reabilitação. Em casos mais graves, a cirurgia pode ser necessária. “Intervir cedo ajuda a prevenir que a dor piore”, afirma Ikeda.
Para evitar o avanço dos sintomas, o médico sugere algumas mudanças de hábitos:
- Segurar o dispositivo com ambas as mãos e usar outros dedos além do polegar para tocar na tela.
- Manter o telefone na altura dos olhos ou ligeiramente abaixo.
- Dobrar levemente os cotovelos para reduzir a tensão no punho.
- Fazer pausas regulares para alongar dedos e pulsos.
- Investir em suportes e acessórios ergonômicos, como anéis para celular ou suportes de mesa.
- Usar comandos de voz sempre que possível.
O sumaho yubi é um lembrete de que, por trás da praticidade do smartphone, nosso corpo também precisa de atenção. Um pouco de cuidado pode evitar que o hábito moderno se torne uma dor crônica.