Tóquio – A situação que o Japão está enfrentando com relação ao desemprego pode ser mais elevada do que os dados oficiais do governo estão mostrando.
Em entrevista para a emissora NHK, o professor da Universidade de Tóquio e especialista em economia e trabalho, Yuji Genda, alertou para a realidade de muitas pessoas que perderam o emprego e por medo de acabar infectados, não estão realizando atividades de busca por um novo trabalho.
Os dados do Ministério dos Negócios Internos e Comunicações mostram que a taxa de desemprego ficou em 2,9% no mês de janeiro. Em julho de 2009, ano seguinte a crise econômica mundial, a taxa estava em 5,5%. Em junho de 2011, meses após o grande terremoto e tsunami de Tohoku, a taxa subiu para 4,7%.
Analisando os dados, a situação atual não parece tão crítica.
No entanto, Yuji garante que o governo não está contabilizando milhares de casos de desemprego e de trabalhadores informais que ficaram sem renda. Muitas famílias podem estar passando necessidade e enfrentando uma situação de desamparo.
“A taxa de desemprego exibe dados relativamente baixos, pois há muitas pessoas que não conseguem procurar um novo emprego, estão com medo de pegar o vírus e desistiram. Se o governo não procurar meios de amparar quem está nesta situação, as pessoas que estão passando dificuldades vão permanecer nas sombras”, alertou.
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Caso de desemprego
A NHK conversou com pessoas que estão passando por uma situação difícil sem que o governo tenha conhecimento dos casos.
Um destes casos é o de Kaori (nome fictício), uma mulher japonesa de 35 anos, que mora com o marido e três filhos, uma menina de 10 anos, um menino de 8 anos e um bebê de 1 ano.
Ela costumava trabalhar como fotógrafa freelancer, fotografando eventos em escolas e casamentos. Kaori costumava ganhar cerca de ¥60 mil por mês, mas desde o início da pandemia, em março do ano passado, não tem mais nenhum trabalho.
No verão de 2020, ela passou a pesquisar ofertas de trabalho temporário, mas por causa das circunstâncias, desistiu de tentar as vagas.
“Por causa da disseminação do vírus, eu não sei se a escola dos meus filhos e a creche não vão suspender as atividades de novo, o que me obrigaria a faltar o trabalho por duas semanas”.
Na prefeitura da cidade onde Kaori vive com a família, as escolas estão fechando por duas semanas no caso de algum aluno, professor ou funcionário acabar contaminado, para atividades de limpeza e identificação da rota de contaminação.
O marido de Kaori trabalha para uma empresa, mas ela completava a renda com os serviços de fotografia.
“Por causa das crianças, pode ser que eu tenha que faltar o trabalho repentinamente. Então não consigo fazer uma entrevista de emprego e falar com toda a certeza que eu posso trabalhar”, contou.
Trabalho em casa
No ano passado, Kaori foi à agência pública de empregos (Hello Work) pensando que se encontrasse uma vaga para trabalhar em casa, poderia dar um jeito mesmo se as crianças tivessem as aulas suspensas.
No entanto, a ideia também não deu certo.
Ela decidiu aprender webdesigner por ser uma profissão possível de trabalhar em casa e assistiu a seminários promovidos pela Hello Work. No entanto, ouviu de um funcionário que participar dos treinamentos diários era requisito para tentar uma vaga e que ter filhos poderia ser uma desvantagem na entrevista.
“Se eu mal começar a trabalhar e de repente falar que tenho que tirar duas semanas de folga, é complicado. Para que eu possa lidar com a possibilidade de suspensão de aulas e trabalhar mesmo assim, pensei que o melhor era fazer as atividades de casa, mas não consigo dar nem o primeiro passo com relação a isso. Quero trabalhar e não posso, estou estressada e aflita todos os dias”, desabafou.
Quando tinha renda, Kaori comprava os materias escolares, roupas das crianças e ajudava a pagar parte do aluguel. Agora, precisa pagar tudo com o salário do marido e as economias da família.
Desemprego no Japão
O professor Yuji Genda conta que analisou em detalhes os dados do Ministério dos Negócios Internos e Comunicações com relação a situação de emprego no país.
Antes da pandemia, a tendência era de redução do número de pessoas em idade ativa que não estavam trabalhando ou procurando por um emprego.
Desde 2015, aumentou o número de mulheres e idosos trabalhando e esta parcela da população ativa e sem trabalho reduziu ainda mais.
Genda diz que comparou dados mensais do governo e estima que, em janeiro deste ano, há aproximadamente 770 mil pessoas nesta situação de desistência, além dos dados que o governo mostra.
“Em janeiro, o governo revelou que há 2,03 milhões de desempregados. Além deste número, a análise de dados indica que há cerca de 770 mil pessoas que desistiram de procurar emprego por medo da pandemia”, explicou.