Nakama – Um mês se passou desde que o menino Touma Kurakake, de 5 anos, morreu de hipertermia por ter sido esquecido durante 9 horas no ônibus da creche Futaba em Nakama (provínicia de Fukuoka).
A tragédia que causou revolta em todo o país, angústia e desespero para a família da vítima, não foi esquecida. No entanto, na Creche Futaba, a diretora responsável pelo acidente segue a rotina normalmente e os pais das outras crianças reclamam de promessas que não foram cumpridas.
Um teste realizado pela polícia local mostrou que a temperatura dentro do ônibus, naquele dia de auge do verão, estava em torno de 50°C. A diretora buscou Touma e mais duas crianças cedo da manhã, mas quando deixou o ônibus no estacionamento da creche, desembarcou apenas duas crianças e trancou o ônibus, deixando o menino preso.
Os funcionários da creche que viram as duas crianças concluíram que Touma havia faltado naquele dia. Ninguém verificou o ônibus que ficou o dia todo no estacionamento e não ligaram para a família para confirmar a ausência do menino.
A tragédia fez com que a província de Fukuoka fizesse um levantamento com 2.500 creches e jardins de infância locais. O resultado mostrou que em 20 instituições, há apenas um motorista responsável por levar e trazer as crianças. Em 108 escolinhas, não há o costume de ligar para os pais caso uma criança falte sem aviso.
No caso do menino Touma, quando as atividades do dia acabaram, as crianças foram levadas de volta para a casa em outro ônibus. Os pais que aguardavam o retorno do filho ouviram funcionários da creche dizerem que o menino não tinha comparecido naquele dia.
A mãe confirmou que ajudou o filho a embarcar no ônibus cedo da manhã. Ao verificar o ônibus da manhã no estacionamento, o menino foi encontrado desacordado e teve a morte confirmada no hospital.
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Explicações e promessas
Em uma reunião com os pais, a diretora que esqueceu o menino no ônibus pediu desculpas e admitiu ter cometido um erro.
“Eu não verifiquei como deveria e houve uma falha de comunicação com os funcionários. Por isto, aconteceu este acidente imensurável e lamento muito por isto. Eu achei que o Touma tinha saído do ônibus e não fiz a checagem depois que as crianças desceram”, afirmou.
A professora responsável pelas crianças apenas concluiu que Touma havia faltado no dia, mas não confirmou nem com a diretora e nem com a família.
Yuriko Tanaka (nome fictício) que tem o filho matrículado na mesma creche, contou para a emissora Fuji que pensou muitas vezes em trocar o filho de escolinha.
“Depois do acidente nós pensamos muito nisto. Mas tenho o meu trabalho e se pensar no meu filho, ele sofreria um estresse de trocar de creche, se adaptar novamente à um ambiente novo. Acabei deixando assim”, disse.
No entanto, no dia da reunião de pais, em que a diretoria pediu desculpas, uma promessa foi feita.
A diretora foi questionada se iria aparecer normalmente na rotina da creche, cumprimentar as crianças e interagir com elas como se nada tivesse acontecido. Ela respondeu que “não conseguiria isto”. Uma mãe disse que não queria que ela aparecesse na frente das crianças e ela concordou.
A reportagem perguntou para Yuriko como anda o comportamento da diretora desde então.
“Ela aparece normalmente, com um aspecto que parece que nada aconteceu. Quando fui em uma manhã, ela me cumprimentou. Eu achei incrível o fato de que ela consegue puxar assunto com os pais das crianças. Ela prometeu aos pais, mas não está fazendo nada”, contou.
Para o governo da província, o objetivo agora é usar o exemplo da tragédia para prevenir futuras ocorrências nas creches da região.
“Houve uma falha de comunicação entre os funcionários e na troca de informações. Se tivessem tomado um pouco mais de cuidado, isto poderia ter sido evitado. Vamos trabalhar em um plano para que algo do tipo nunca mais aconteça”, disse Ippei Moriyama, representante do Departamento de Apoio à Criação dos Filhos de Fukuoka.