Tóquio – Quando se é jovem e arruma um emprego, a nova fase costuma ser de expectativas e alguns receios sobre a adaptação, a nova rotina e os relacionamentos no trabalho.
No Japão, este início de vida adulta e independente muitas vezes se torna um pesadelo. Vagas que prometem fins de semana de folga, poucas horas extras ou o pagamento completo do trabalho fora do horário padrão, se revelam bem diferentes depois da contratação.
O portal Career Connection, que trata de assuntos trabalhistas, reuniu alguns episódios de jovens na faixa de 20 anos que acabaram desistindo do emprego para proteger a saúde físca e mental.
“Era comum fazer mais do que 100 horas extras mensais e eu tinha duas folgas no mês. E eles ainda falsificavam o holerite, colocando a carga horária e o número de dias trabalhados inferior ao que acontecia na realidade”, comentou um trabalhador jovem.
Leia também: Os cuidadores que convivem com abusos de idosos e seus familiares no Japão: “tem gente que humilha”
Passando a noite no trabalho
Yuta Kawashima (nome fictício), na faixa de 20 anos, relatou o engano que sofreu com a oportunidade de emprego que lhe foi apresentada e as atividades na vida real.
“Antes de entrar na empresa, o trabalho dizia que as horas extras eram pagas por completo e que os fins de semana eram de folga”, diz. “Depois que eu entrei, se tornou comum trabalhar além do horário sem receber e o trabalho nos sábados era rotineiro”, contou.
O jovem era supervisor de obras e ouviu do chefe que até 60 horas extras seriam pagas pela empresa e que o excedente era para ser cobrado do orçamento da construção.
No fim, Yuta diz que nunca recebia por todo o tempo que trabalhava. As condições reais eram muito diferentes do prometido e o volume de trabalho também era elevado.
“Das 7h45 até as 20h eu trabalhava na obra, carregava equipamentos e fazia outras atividades. Entre as 20h e às 23h, tinha que fazer o meu trabalho de escritório. Voltava na madrugada e quase não tinha tempo para dormir”, revelou.
A rotina exaustiva prosseguiu por cinco meses até que Yuta não aguentou mais.
“Foram cinco meses quase sem dormir e eu desenvolvi um quadro leve de depressão. E também não fui o único, outros cinco colegas também desistiram”, disse.
Outro colega que entrou na mesma época também sofreu um quadro de problemas de saúde física e mental.
“Por ser um trabalho de supervisor de obras eu sabia que seria ocupado. Mas foi demais. Dormia no escritório ou voltava na madrugada, enquanto que os funcionários da sede nem faziam horas-extras”, comentou.
Assédio moral no emprego
Nem sempre o trabalho excessivo é o motivo da desistência. As relações humanas e o ambiente também são essenciais para que o trabalho não cause prejuízos mentais para o funcionário.
Hiroyuki Sasaki (nome fictício), também na faixa de 20 anos, passou por uma situação extrema no Departamento Comercial e Jurídico de uma empresa. Ele foi transferido ao setor comandado por um único chefe e logo de início, percebeu que tinha algo errado.
“Os dois últimos antecessores não tinham continuado naquele ambiente. Eu comecei cheio de receios com o chefe e em poucas semanas, minha vida se tornou um inferno”, contou.
Hiroyuki diz que passou a sofrer um assédio moral extremo, a ponto de passar por um estresse emocional profundo.
“Comecei a perguntar para outras pessoas e descobri que a falta de moral daquele chefe era algo conhecido. Não quis ficar em uma empresa que continua a deixar uma pessoa assim em um cargo de chefia”, criticou.