Pyongyang – Um canal no Youtube de uma criança de 11 anos poderia ter passado despercebido no mar de canais infantis, mas não passou pelo fato de se tratar de uma menina norte-coreana.
Ela se apresenta como “Song A.” e os vídeos são em inglês e com legendas (veja o canal aqui). O primeiro vídeo foi postado em abril deste ano e desde então já houve várias publicações. A menina norte-coreana aparece em um ambiente com livros e ursinhos de pelúcia, que deve ser o próprio quarto. Ela fala que mora em Pyongyang e o quanto a cidade é magnífica.
Depois, diz que está na escola primária e é fluente em inglês aos 11 anos porque aprendeu com a mãe. Ela também mostra um livro de Harry Potter, da J.K Rowling e diz que é o seu livro favorito.
A propaganda se torna ainda mais evidente em outros vídeos. Song A. conta que teve febre por causa do coronavírus e depois mostra o momento em que abriu a porta de casa para os militares que vieram trazer os remédios e graças a isto, ela e a mãe ficaram bem.
Em outro vídeo, a garota mostra o Parque Aquático de Munsu e diz que é o maior de Pyongyang, mas que a cidade tem muitos outros. Ela mostra um dia divertido em que centenas de pessoas estão curtindo o verão nas instalações.
Não demorou muito para que os vídeos gerassem repercussão e curiosidade. O regime de Kim Jong-un proíbe o acesso à internet fora do país. Não é possível que um cidadão norte-coreano tenha conta em redes sociais estrangeiras, ainda mais um canal no Youtube.
Mas o caso de Song A., é diferente. E segundo uma reportagem da emissora Fuji TV, ela não é uma menina norte-coreana comum de Pyongyang. Song A. faz parte de uma família da elite do regime ditatorial.
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A família da menina norte-coreana
Os próprios vídeos sugerem que a menina norte-coreana tem uma vida de privilégios, apesar da situação do país. Ela parece morar em um local luxuoso e fala inglês fluente aos 11 anos, sendo que a população da Coreia do Norte não tem contato com o mundo exterior.
Quem desvendou o mistério sobre a identidade da menina foi Thae Yong-Ho, um ex-diplomata da Coreia do Norte que buscou exílio na Coreia do Sul. Ele se tornou um político importante no país e é um dos principais desertores do regime de Kim Jong-un.
Thae Yong-Ho apontou que o pai de Song A. é “Joon-seok”, um importante diplomata do regime, com atuação na Embaixada da Coreia do Norte em Londres. A menina também esteve com o pai no Reino Unido e isto explica não só a fluência em inglês, mas o sotaque britânico nos vídeos.
Não é a primeira vez que o regime do país utiliza o Youtube como veículo de propaganda ao mundo. Houve outros canais e mais um caso individual que chamou atenção dos internautas. Em 2018, uma jovem norte-coreana na faixa de 20 anos também começou a apresentar a vida cotidiana no país em um canal na rede.
Mas o Youtube considera que este tipo de atividade viola as diretrizes do canal e as contas que faziam propaganda da Coreia do Norte foram banidas. A mídia da Coreia do Sul acredita que eles tenham utilizado uma menina norte-coreana desta vez para criar um canal no Youtube infantil e desta forma, tentar evitar o cancelamento.