Apesar de Dark (2017 – 2020) ser considerada a melhor série da Netflix de todos os tempos, é preciso deixar bem claro que 1899 não tem o mesmo ritmo e que seus mistérios interessam, mas não são iguais. A série foi criada pela dupla Jantje Friese e Baran bo Odar, a mesma da série alemã que arregaçou a cabeça de todo mundo. E não tem mesmo como comparar as duas séries, apesar de algumas “rimas” que elas apresentam e o ator Andreas Pietschmann, (o capitão Eyk Larsen) o Jonas do pós apocalipse de Dark.
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E com todas as coisas interessantes de 1899, uma das que mais me agradou foi o clima gerado entre os tripulantes por não falarem o mesmo idioma. É, de novo, não tem como assistir a série sem legendas. É claro que dá para ver eles falando algumas partes em inglês, mas para ir sem auxílio é preciso saber alemão, dinamarquês, francês, chinês, polonês, espanhol e português de Portugal. Só isso já dá uma bela complicada para quem “embarcou” nesta história.
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1899 e o conto da caverna de Platão
E se você gosta de filosofia, ciência e aquele toque de mitologia, vai se encantar de como a narrativa mescla tudo isso de forma que nada se sobreponha. Por exemplo, a personagem principal da trama é a médica Maura Franklin (Emily Beecham). Como a história se passa no passado, dá para imaginar o quão limitada era a experiência que ela tinha adquirido na profissão. Além disso, Maura estuda o funcionamento do cérebro humano, mas com a mesma perspectiva que temos hoje em dia, onde sabemos que o cérebro trabalha por meio de estímulos, sejam eles do meio ou induzidos por nossas crenças. E isso já coloca ela em uma posição complicada, somando ao fato dela estar viajando sozinha da Europa para a América.
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E outro ponto importante é sobre o conto da caverna, sugerido por Platão (427 – 448 A.C.). Nele, o filósofo cria uma alegoria para explicar o que é o real e o que é o ilusório, partindo do ponto que as pessoas presas nessa caverna veem apenas as sombras projetadas em uma parede. Assim, como elas nunca viram nada além do que aparece na parede, elas acreditam que aquilo é a realidade. É claro que a alegoria também fala sobre alguém que se liberta e vê o mundo real, retorna à caverna e tenta explicar o que viu, mas é rechaçado por parecer alguém que vive fora da “realidade”.
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O real e a ilusão
Da mesma forma que o conto da caverna, a tripulação tenta entender os mistérios que acontecem ao seu redor, mesmo que eles quase nunca consigam se comunicar eficientemente, já que cada um fala um idioma. Além disso, existe também a questão delas viverem em classes distintas, como todo aquele velho conflito de quem é rico e pobre, experimentando o mundo de formas diferentes.
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E por trás de tudo, todos têm um passado sombrio, fogem de algo e querem recomeçar do outro lado do mundo. É claro questões delicadas tratadas na história, como o homossexualismo, o fanatismo religioso e prostituição, mas a personagem que mais me chamou a atenção foi a Ling Yi (Isabella Wei) que finge ser uma japonesa indo para a América. É só ela abrir a boca que você percebe que ela não é nada disso.
A série tem 8 episódios de cerca de 60 minutos e está disponível na Netflix.