Tóquio – Uma infância repleta de agressões físicas ou psicológicas é extramamente prejudicial e pode resultar em traumas e problemas graves na vida adulta, mas esta é uma questão social difícil de lidar.
No Japão, tem aumentado ano a ano os casos de crianças que sofrem algum tipo de violência dos pais e nem sempre essas crianças conseguem pedir ajuda, obter proteção ou acolhimento.
Uma pesquisa recente, conduzida pelo Projeto ACHA, administrado por um grupo de voluntários que presta assistência para crianças que estão em abrigos, mostrou que em muitos casos, nem a escola consegue ser um apoio aos pequenos.
O grupo fez um estudo online com 1001 homens e mulheres jovens através de redes sociais, como o Twitter, Facebook, Instagram e Tiktok. A pesquisa foi realizada entre junho de 2021 e novembro deste ano e teve como objetivo coletar mais informações sobre os casos de agressão infantil nas histórias de vida.
Os resultados mostraram que as meninas sofrem mais violência psicológica e os meninos estão mais expostos à violência física. Para 666 entrevistados (70%), as agressões partiam da mãe e para 568 (60%), era mais comum ser agredido pelo pai.
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As dificuldades na escola
Quando a criança sofre agressões em casa, é comum que busque ajuda ou um refúgio na escola, que é o ambiente onde mais convive além da própria casa e onde, supostamente, encontra adultos que pode confiar.
Mas na realidade, é difícil que as crianças de fato peçam ajuda para seus educadores e quando fazem, isto não costuma resultar em uma solução para o problema que enfrenta dentro de casa.
A maioria dos entrevistados que colaborou com a pesquisa disse que não chegou a pedir ajuda para ninguém na escola. Mas uma parcela pequena (23,1% dos homens e 24,8% das mulheres) consultou algum professor na ocasião. Mesmo assim, nada foi resolvido. As agressões em casa continuaram.
Entre os que pediram ajuda na escola, a maioria estava no ensino ginasial (27 homens e 121 mulheres), mas houve casos de pedido de ajuda quando estavam na escola primária (23 homens e 129 mulheres) e no ensino médio (11 homens e 158 mulheres).
De forma geral, não adiantou nada pedir socorro para um professor e na maioria dos casos, o professor escolhido para contar sobre o assunto foi o responsável pela classe.
Por fim, os entrevistados foram questionados sobre o que os deixou contentes ao conversar sobre o assunto com um professor, e eles falaram sobre o bem-estar de ter alguém para desabafar e de sentir que não estavam enfrentando seus problemas sozinhos.
Mas, houve também os casos que, além de não resultar em uma solução, a situação acabou piorando por conversar com alguém na escola. Esses entrevistados disseram que o professor contou para a mãe, que foram reprimidos e que por causa disso, a situação de agressões em casa acabou se intensificando.
A pesquisa foi publicada em uma reportagem do portal japonês Maidona News e os entrevistados eram, na maioria, jovens entre 10 e 20 anos.
Embora sejam histórias do passado, a pesquisa detalhada em um relatório de 48 páginas (veja aqui, em japonês), traz luz para uma questão que se desenrola até hoje e com o agravante do aumento anual nos casos de crianças que são vítimas de violência no dia a dia no Japão.