Katano – Uma semana antes de morrer, Takuya*, que trabalhava há anos como caminhoneiro, visitou a casa dos pais na província de Quioto e desabafou com o irmão.
Ele contou que o trabalho estava pesado demais e que não tinha tempo para dormir. A aparência também denunciava seu cansaço. O homem que tinha 52 anos parecia cabisbaixo, esgotado e sem energia.
O irmão ficou preocupado e um dia antes da morte, ligou para Takuya, que estava dirigindo. Ele disse para que o homem não se esforçasse demais com o trabalho e cuidasse da saúde.
O conselho não foi ouvido ou, talvez, fosse tarde demais para ouvi-lo. No dia seguinte, Takuya dirigia por uma estrada em Hiroshima quando sentiu algo estranho no peito. O caminhão bateu no meio-frio e ele conseguiu frear antes de cair sobre o volante. Takuya foi levado ao hospital e teve a morte confirmada por infarto do miocárdio.
O caso aconteceu em agosto de 2019 e foi levado para o Escritório de Inspeção de Normas Trabalhistas. Só em setembro do ano passado o escritório confirmou que a morte tinha ocorrido por consequência do excesso de trabalho.
O caminhoneiro já tinha feito 124 horas extras no mês em que acabou morrendo e as jornadas longas não eram eventuais, mas a rotina do trabalho. Os relatórios também mostraram que 5 meses antes do infarto o homem tinha passado de 200 horas extras no mês.
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Jornadas absurdas e perigo na estrada
No caso de Takuya, muitas dias se seguiam sem que tivesse tempo para dormir. O intervalo entre um dia de trabalho e o outro era curto e normalmente não chegava a 8 horas.
Em julho de 2019, houve dias em que o homem começou a trabalhar de manhã, foi até um pouco depois da meia-noite trabalhando e depois de um intervalo de 30 minutos, recomeçou o serviço do dia seguinte.
Um dia antes de morrer, Takuya tinha começado o trabalho por volta das 8h30 da manhã e só encerrou o serviço às 22h35. Depois disso, conseguiu descansar por apenas 1h30 e no início da madrugada do dia seguinte, voltou a dirigir.
O caso foi relatado por uma reportagem do Jornal Sankei e foi mais um alerta sobre a situação alarmante do ambiente de trabalho de muitos caminhoneiros. A falta de controle dos horários, excesso de trabalho e falta de cuidados com a saúde são responsáveis pelos casos de mortes, muitas provocadas por infartos ou AVC (acidente vascular cerebral).
Além disso, as jornadas excessivas para quem trabalha na estrada também causam muitos acidentes de trânsito. Em abril do próximo ano, uma regulamentação mais forte para as horas extras de motoristas de caminhão deve ser efetivada.
O processo na justiça
Depois que o caso foi confirmado como morte por excesso de trabalho, a família de Takuya entrou com um processo na Corte de Osaka. O homem trabalhava para uma empresa de transporte de veículos usados, sediada na cidade de Katano, na província de Osaka.
A família entrou com um pedido de ¥55 milhões de indenização pela morte do ente querido. A mãe de Takuya desabafou publicamente sobre o caso:
“Eu jamais pensei, nem mesmo em sonhos, que o meu filho poderia partir antes de mim”.
Por outro lado, a empresa responsável pelo caminhoneiro não quer assumir a responsabilidade e pede o cancelamento do pedido de indenização. A empresa alega que tem um sistema de pagamento de porcentagem de lucros além do salário e que isso motiva os caminhoneiros a viajar por longas distâncias.
Eles também disseram que o funcionário passava a maior parte do tempo fora da empresa, atuando na estrada e que por conta disso, não tinham oportunidades de verificar as condições de saúde do trabalhador.
Por fim, a empresa negou ter infringido qualquer norma trabalhista. As informações sobre o processo, audiências e quando terá um parecer do juiz não foram divulgados.