Koriyama – Há três anos, uma tragédia abalava o Japão e se tornava também notícia internacional: um restaurante na cidade de Koriyama, em Fukushima, sofreu uma grande explosão por causa de um vazamento de gás na cozinha.
Era manhã de 30 de julho de 2020. Tudo parecia normal quando Yuka*, que administra um salão de beleza na cidade, foi depositar o lucro do serviço no caixa eletrônico de uma filial do banco Toho, logo ao lado do restaurante.
Enquanto Yuka se aproximava do caixa eletrônico, a corrosão na tubulação de gás da cozinha do restaurante, a metros de distância, começava a ceder. O vazamento aconteceu e em questão de segundos, tudo mudou para as 32 pessoas mais próximas do local.
Uma pessoa morreu com a explosão e outras 31 ficaram feridas, algumas em estado grave. Yuka foi uma das quatro pessoas feridas no banco: ela, outro cliente e dois funcionários foram atingidos.
“Eu só lembro de abrir o zíper da minha bolsa e pegar o dinheiro, depois disso não tenho mais memórias e quando percebi, três dias tinham se passado” relatou.
A mulher foi lançada em uma distância de três metros com o impacto da explosão. Yuka não lembra de absolutamente nada, nem do barulho da explosão ou das sirenes das ambulâncias.
“Na hora do acidente, parece que quatro dentes de cima e a gengiva não foram carregados comigo. Quando fui para o hospital, dois dentes estavam no meu estômago, um pendendo para fora da boca e outro deve ter se perdido”, relatou.
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“Quero o meu rosto de volta”
Os segundos da explosão mudaram a vida de Yuka, que tem 49 anos, para sempre. Ela diz que “ficou parecendo como um fantasma”. O quadro foi de fraturas no queixo, na mandíbula e rompimento de nervos.
Foram três meses para se recuperar dos ferimentos e 300 pontos recebidos em 10 horas de cirurgia. Mesmo agora, três anos depois, o tratamento não acabou e a vida de Yuka nunca mais será a mesma.
“Parte do meu rosto não se move mais e eu odeio tirar fotos. Quando vejo meu rosto, parece que me transformei em um fantasma”, desabafou.
Os danos no rosto e na autoestima são irreversíveis, mas a questão não é apenas estética. A sequela da explosão também afetou o estilo de vida como um todo.
“Eu recebi alta depois de dois meses no hospital e com os pontos da cirurgia, não posso mais mover as extremidades da boca. É difícil beber, comer, conversar. Tudo mudou na minha vida. Tenho que beber de canudo e se não fizer reabilitação, minhas articulações não se movem”, explicou.
Ela já recebeu mais de 10 cirurgias e segue em tratamento contínuo.
“Eu não sei quem tem responsabilidade no acidente e quero que isso fique esclarecido. Eu quero o meu rosto, meu corpo e o meu tempo de volta, mas isso não é possível, então só resta receber uma indenização e estou esperando por isso”, disse.
Três anos já se passaram e as vítimas do acidente continuam sofrendo as consequências daquele dia e esperam que os responsáveis respondam pelo caso.
*Yuka é nome fictício, o nome real da vítima não foi revelado.