Uchinada – O desastre natural em Ishikawa, ocorrido no primeiro dia do ano, completou duas semanas. E desde então, os noticiários japoneses focaram em mostrar os danos, relatos de vítimas e histórias tristes de pessoas que perderam familiares, filhos, moradia e o local de trabalho.
O foco também esteve em cidades como Suzu, Nanao e Wajima, em Ishikawa, que sofreram os maiores danos. Porém, a situação em uma outra cidade, também afetada na província, acabou alertando os pesquisadores.
Esta é a cidade de Uchinada, localizada no meio oeste de Ishikawa e com uma população em torno de 26 mil habitantes. O terremoto sentido no primeiro dia do ano foi de intensidade 5 na escala japonesa, um pouco menos forte do que nas cidades mais próximas da Península de Noto, onde ocorreu o epícentro.
No entanto, Uchinada sofreu um fenômeno de liquefação do solo, que é quando uma massa do solo se torna líquida pelas condições da terra, água e areia. E por causa disto, não apenas os prédios foram danificados, mas também muitas estradas e avenidas. Algumas estradas foram inundadas, outras sofreram inclinações perigosas.
A locomoção se tornou difícil por causa dos danos em muitas ruas. O chão se elevou diante da fachada de uma escola primária e os degraus cederam. Tornou-se perigoso e difícil de garantir a segurança das crianças na entrada da escola.
Segundo uma reportagem da Emissora Fuji, o nível de danos surpreendeu pelo fato de que a cidade está um pouco afastada da Península de Noto e sofreu um tremor mais fraco em comparação com as outras cidades. Mesmo assim, mais de 1000 construções acabaram danificadas, além dos evidentes danos nas ruas.
O professor da Universidade Tóquio Denki, Susumu Yasuda, explicou a causa do fenômeno. A condição vista em Uchinada acabou se tornando um alerta também para Nagoya, a capital de Aichi.
“As estradas de Uchinada se elevaram em um metro e este é um fenômeno bem diferente da liquefação do solo em condições comuns. O terremoto provocou um deslocamento horizontal dos terrenos, e conseguimos observar um movimento de terra na faixa de 3 metros”, disse.
O que aconteceu em Uchinada foi um desequilíbrio entre partículas de areia e água do solo. A água sobe e a areia mais pesada afunda. Isto resulta na transformação do solo em líquido, o que acontece pelas condições naturais da região.
Como consequência, o solo se torna mole, as construções desabam, as tampas de bueiros voam longe. É um fenômeno que acontece mais facilmente em áreas próximas de rios e em locais de aterro. E por conta disso, o risco em Aichi e nas outras províncias da região de Tokai se tornou elevado caso um forte terremoto atinga a região central do país.
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O que pode acontecer em Aichi?
A notícia é particularmente ruim para Nagoya, a capital da província de Aichi. O professor da Universidade de Nagoya, Toshihiro Noda, explicou como as condições do solo na capital de Aichi são parecidas com Uchinada.
“Em mapas que reproduzem a topografia de 6 mil anos atrás, vemos que o mar se estendia até a cidade de Ogaki, na província de Gifu. Na região de Nagoya, a área a oeste do rio Horikawa e ao sul do Santuário Aichi também era coberta pelo mar”, disse.
De acordo com o pesquisador, há uma área extensa em Nagoya com alto risco de liquefação por causa da sedimentação do solo na região que antes era ocupada pelo mar. O mesmo risco também existe em Ogaki e nas outras províncias da região central do Japão.
A ameaça do terremoto de Nankai
O terremoto de Nankai é uma ameaça que assombra o Japão há décadas por causa da fossa submarina de 900 km de extensão, conhecida como “nankai torafu”. Devido aos registros históricos, os pesquisadores acreditam que um tremor proveniente desta fossa está perto de acontecer e as consequências poderão ser catastróficas.
“Se o terremoto de Nankai acontecer, apenas na província de Aichi, podemos estimar que 23 mil construções serão destruídas com a liquefação do solo. É possível que a província enfrente a maior liquefação que o Japão já viu acontecer”, disse o professor Toshihiro Noda.
E é por isso que o Japão vem investindo cada vez mais na prevenção de desastres. Embora não seja possível evitar os danos e mortes em um grande desastre inesperado, as autoridades e a população tentam reduzir os danos e salvar o maior número de vidas.
Segundo a reportagem, dentro dos depósitos de prevenção há barcos armazenados, cobertores, águas e outros itens, como banheiros para uso em situações de emergência. As iniciativas por parte do governo têm avançado, mas as autoridades reforçam a importância de manter a população consciente dos riscos e preparada.