Sendai – A vida de Akio Seki, um japonês de 53 anos, estava prestes a mudar para sempre em dezembro do ano passado. O homem que atua há quase 10 anos como motorista de táxi em Sendai, na região nordeste do Japão, foi diagnosticado com um câncer de faringe.
Este é um tipo de câncer silencioso e quando começam os sintomas, como nódulos no pescoço, dificuldade para engolir ou falar, é sinal de que o tumor já avançou. No caso de Akio, o diagnóstico veio um pouco antes da notícia que mudaria a rotina, trabalho e sua vida a partir de então: ele precisava remover as cordas vocais em uma cirurgia.
“Eu fiquei muito abalado quando soube do câncer, com aquele sentimento de não saber se teria cura ou não. Depois da cirurgia no hospital, eu não tive muita reação ao fato de que não podia mais falar. Mas quando recebi alta e fui para a casa, eu me desesperei um pouco”, contou.
A cirurgia foi realizada com sucesso e o câncer foi superado, mas o motorista teve que lidar com o fato de que, de repente, não pode mais falar. Mesmo assim, ele decidiu continuar trabalhando com o táxi, já que nada o impedia de dirigir. A dificuldade se tornou a comunicação com os passageiros e para isso, o apoio da empresa foi essencial.
A história de Akio foi contada em uma reportagem da Emissora Fuji, que mostrou detalhes sobre como é a rotina do taxista que não pode mais falar e por quais razões ele decidiu continuar no mesmo emprego. O homem poderia ter procurado um serviço que não houvesse necessidade de se comunicar com os clientes, mas encontrou uma motivação maior para seguir no táxi.
A empresa de táxi está localizada no bairro de Wakabayashi, na cidade de Sendai (província de mesmo nome) e tão logo souberam da condição do funcionário, eles tomaram providências para que Akio pudesse seguir trabalhando.
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O táxi adaptado em Sendai
Os passageiros que entram no táxi logo recebem uma placa em mãos informando que o motorista não pode falar, mas ouve bem. Para que seja possível se comunicar com os passageiros, a empresa providenciou um tablet especial e um aplicativo que lê as mensagens em voz alta.
Há também uma buzina de segurança que o motorista pode acionar se for vítima de algum crime ou roubo. No dia a dia, não há dificuldades.
“Eu só me preocupo se acontecer de um passageiro dormir no táxi e eu precisar acordá-lo. Pode ser problemático tocar na pessoa e não posso usar a voz, mas já estou dando um jeito para prevenir esse tipo de situação”, disse.
A motivação maior para seguir firme no táxi é a possibilidade de motivar e inspirar outras pessoas que sofrem com deficiências variadas e muitas vezes se sentem subjulgadas, desvalorizadas ou incapazes de exercer uma profissão útil na sociedade.
“Eu sobrevivi, retornei ao trabalho e de início pensei que seria um incômodo aos passageiros por não poder falar com eles. Porém, o que acontece é bem diferente disto. Eles ficam admirados, agradecidos e frequentemente dizem para eu continuar me esforçando todos os dias”, contou.
Akio se deu conta que quando outras pessoas o observam trabalhando com sua condição e superando as dificuldades, se sentem motivadas a superar seus próprios desafios também.
“Se outras pessoas com deficiência repararem em mim e se sentirem mais fortes, sinto que estou cumprindo minha missão. Eu quero que eles se sintam bem e comecem a enxergar as possibilidades também. Enquanto isso, sigo no meu táxi dirigindo em segurança todos os dias”, finalizou, sorrindo.