Tóquio – Os pais de uma menina de 5 anos que estava internada em um hospital na região oeste (nishi) do Japão estão passando pelo luto de ter perdido a filha e diante da dor, conseguiram salvar outras três vidas com a doação de órgãos.
Uma reportagem da Agência Kyodo News contou que a menina teve a morte cerebral confirmada e os pais autorizaram a doação. O coração foi doado para uma menina com menos de 10 anos que está internada no Hospital de Tóquio, o fígado foi para um menino, também com menos de 10 anos, que está no hospital de Quioto e os rins foram concedidos para outro menino, internado em um hospital na região de Kyushu.
A menina sofria com a encefalopatia hipóxico-isquêmica, que é uma lesão grave que ocorre quando há um episódio prolongado de isquemia ou hipóxia antes ou durante o parto.
De acordo com o Programa de Atualização para Profissionais de Saúde no Brasil (Secad), as criança com essa condição sofrem um dano cerebral irreversível e 30% dos recém-nascidos não sobrevivem. Nos casos de sobrevivência, a criança têm deficiências neurológicas severas que afetam o desenvolvimento, causam paralisia cerebral e comprometem a capacidade cognitiva.
A doação foi possível por causa de uma reforma de lei ocorrida em 2009, que permitiu que os pais autorizassem a doação de órgãos de menores de 15 anos com morte cerebral. Mesmo assim, muitos hospitais japoneses não tem um sistema que permita doações, manejo de órgãos e transplantes e em muitos casos, há empecilhos legais.
Não é possível doar órgãos de menores que morreram por conta de violência e maus tratos da família ou quando não se pode comprovar que a morte não está relacionada com agressões ou negligência familiar.
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As dificuldades de doar órgãos no Japão
Qualquer cidadão adulto pode se declarar um doador de órgãos e os pais de menores que sofrem morte cerebral podem autorizar a doação, porém, o Japão está longe de uma realidade em que os transplantes são numerosos e a fila de espera é atendida.
As leis que permitiram os transplantes de órgãos no Japão datam de 1997 e na época, isto causou uma grande esperança em que precisava de um órgão. Na prática, o cenário não foi de grande sucesso e mesmo hoje, 27 anos depois, o Japão realiza um número pequeno de transplantes por ano.
Segundo uma reportagem da Emissora NHK, um ranking de execução de transplantes em 71 países e regiões, coloca o Japão na posição número 63. A fila de espera tem mais de 16 mil pessoas, mas os transplantes só conseguem atender 2% da demanda.
Por isso, é comum ver grandes campanhas de arrecação de fundos para transplantes fora do país. Muitas famílias arrecadam milhões em doações de recursos para que seja possível viajar aos Estados Unidos com seus filhos e realizar o transplante em um hospital norte-americano, onde as cirúrgias são bem mais frequentes.