Saga – Nos países asiáticos, há uma taxa alta de pessoas que ficam com o rosto vermelho depois de consumir bebida alcoólica. No Japão, estima-se que cerca de 50% da população tem essa reação ao álcool no organismo.
A questão é tão comum que ganhou um nome: asian flush, que em português seria algo como “rubor asiático”. Quem convive com essa condição agora pode comemorar um pequeno momento de glória: os pesquisadores da Universidade de Saga, no sul do Japão, descobriram que essas pessoas são mais resistentes ao coronavírus e outros tipos de doenças infecciosas.
A pesquisa foi conduzida pela professora do Departamento de Medicina da Universidade de Saga, Akiko Matsumoto e o pesquisador e inspetor agrícola, Ken Takashima.
Segundo uma reportagem do Jornal Asahi, Ken desconfiou que poderia existir essa ligação e fez uma pesquisa prévia com 57 pessoas. Os resultados mostraram que para cada 3 pessoas que pegavam o coronavírus, apenas uma sofria com o rubor na face.
Ele comentou ao jornal:
“Eu percebi que isso fazia sentido, mas precisava pesquisar com uma perspectiva mais científica. Entrei em contato com a professora Matsumoto, que estuda há mais de 20 anos sobre a relação do rubor asiático com a contração de doenças. Começamos a trabalhar juntos nesta pesquisa em julho do ano passado”, contou.
O time entrevistou 807 pessoas pela internet e 445 responderam que o rosto fica vermelho quando bebem álcool, contra 362 que não passam por essa reação.
Eles tiveram que responder se pegaram ou não coronavírus até agosto de 2021, quando as vacinas foram efetivadas e para a surpresa dos pesquisadores, para cada 5 pessoas que contraíram o vírus, apenas uma com rubor asiático foi infectada.
Os resultados foram publicados na revista de medicina internacional da Sociedade Japonesa para a Higiene e mostraram que as “vítimas” do rubor asiático podem ser até 5 vezes mais resistentes. A explicação está nas condições genéticas.
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A vantagem de ficar vermelho com álcool
Segundo os pesquisadores, quem fica com o rosto vermelho ao beber álcool tem uma condição genética em comum. As enzimas que neutralizam o acetaldeído, que é um subproduto metabólico do etanol, são mais fracas. Como resultado, o álcool provoca a expansão dos vasos sanguíneos e a pele ganha o rubor.
“Entre os aldeídos, há o formaldeído, que age na eliminação das bactérias e é produzido pelo próprio organismo. Esse tipo de pessoa que tem dificuldade de neutralizar os aldeídos acaba com uma alta concentração de formaldeído no organismo e como resultado, se torna menos propenso à infecções”, explicou a professora.
Embora a pesquisa tenha focado no coronavírus, essa condição também sugere uma resistência maior para outros vírus e infecções bacterianas. Pode ser mais difícil pegar influenza ou norovírus.
A professora Matsumoto já fez testes com roedores que ficam com a pele vermelha e outros que não ficam pelas mesmas condições de enzimas. Todos os ratos foram expostos ao bacilo de Koch, a bactéria que provoca a tuberculose e os que ficavam com a pele vermelha tiveram uma baixa proliferação da bactéria.