Nagoya – Um dos casos mais tristes dos últimos anos teve um desfecho no Tribunal de Nagoya, capital de província de Aichi. Himeka Tooya, uma japonesa de 29 anos, foi condenada a 23 anos de prisão pela morte das três filhas.
Himeka tentou executar um ato que é conhecido no Japão como “murishinju”, quando uma mãe decide assassinar seus filhos e cometer suicídio na sequência. Ela estrangulou as três filhas, Himari de 5 anos, Nanoka de 3 anos e Sakura, de apenas 9 meses, em fevereiro de 2022.
Depois de cometer os crimes, Himeka tentou tirar a própria vida se enforcando e cortando os pulsos, mas ela sobreviveu. Foi encontrada ferida, perto do corpo das filhas e levada ao hospital onde se recuperou dos ferimentos até ter alta.
Segundo uma reportagem da Emissora CBC, as audiências no tribunal foram complexas e com histórias dolorosas. De um lado, a promotoria pedia por uma condenação de 25 anos e de outro, o advogado pedia que a réu fosse inocentada por não estar em condições psicológicas adequadas para ser responsabilizada pelos crimes.
Himeka se casou em 2016 e teve a primeira filha no ano seguinte. Ela logo sofreu com uma depressão pós-parto e fez tratamento em um hospital durante 4 meses. Depois disso, julgou que tinha se recuperado o bastante para viajar com a família e decidiu parar de frequentar as consultas.
A situação mental da japonesa foi piorando até o dia em que decidiu morrer e matar as filhas. Neste dia, as crianças foram levadas para comer panqueca em uma rede de fast food. A réu disse que queria ver “o rosto de contentamento” das filhas e logo depois disso, executou seu plano que acabaria com a vida de todas as crianças.
A sentença foi proferida na segunda-feira (11), pelo juiz Tomohiro Yoshida. Ele disse que não poderia deixar de responsabilizar a mãe pelo crime que cometeu contra as próprias filhas.
“Diante da responsabilidade de criar as três meninas, você perdeu a confiança como mãe e não tratou sua depressão. Podemos considerar que estava em condições de tomar responsabilidade e que teve a forte intenção de cometer esses assassinatos”, considerou.
O julgamento terminou com o juiz perguntando se ela tinha entendido e Himeka disse um “sim” com a voz fraca e embargada.
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O perfeccionismo e a culpa pelas filhas
O crime aconteceu na casa da família, na cidade de Ichinomiya, na província de Aichi. Himeka disse que era perfeccionista, não se considerava uma boa mãe e se sentia culpada.
Diante da situação delicada, a mãe do marido chegou a frequentar a casa do filho e da nora das 8h30 da manhã até às 16h por um longo período, para que pudesse ajudar a cuidar das netas. Ela prestou depoimento no tribunal.
“Ela não parecia em boas condições, estava negligenciando um pouco seus afazeres. Eu perguntava bastante se as crianças não estavam chorando, se ela tinha dado conta de lavar as roupas, essas coisas”.
De início, Himeka se esforçava. Uma das filhas tinha alergia alimentar e ela preparava a comida em casa, cuidava para que não tivessem aditivos. Porém, com o tempo, a situação psicológica foi se agravando enquanto cuidava das meninas.
“Eu não conseguia ter um cronograma, cuidar das finanças e me sentia inadequada como mãe. Eu não conseguia fazer por elas as coisas que eu queria e vivia sofrendo por isso. Uma vozinha na minha cabeça me mandava morrer e desaparecer e eu comecei a achar que isso seria uma solução”, contou.
Sem receber uma ajuda externa que pudesse impedir o ato, Himeka foi chegando ao limite até decidir matar as próprias filhas e morrer junto com elas. Esses casos não são raros no Japão e muitas vezes, a mãe é encontrada morta com os filhos dentro de casa ou do apartamento da família.
No caso de Himeka, as crianças morreram e ela foi salva e agora será responsabilizada pelos crimes com uma longa condenação.