Às vezes, faltam palavras para explicar o que nos leva a assistir a um filme, mas, no caso de “Barbie”, minha motivação foi mais do que apenas curiosidade. Primeiro, questionei a necessidade de criar um filme com essa temática. Embora a boneca mais famosa do mundo seja garantia de um grande sucesso nas bilheterias, será que precisávamos realmente vê-la em um filme de live-action? Surpreendentemente, a resposta é sim. Inicialmente, poderíamos pensar que “Barbie” seguiria uma linha semelhante à de “Toy Story”, mostrando alguém brincando com a boneca e, em seguida, explorando a imaginação por trás dessa brincadeira.
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No entanto, a inspiração por trás de “Barbie” lembra mais “Matrix”. Isso pode ter surpreendido aqueles que imaginavam estar assistindo a um filme voltado para o público feminino, mas, na verdade, encontraram uma produção que se propôs a transformar os espectadores em geral. O ponto de partida para essa transformação é uma mudança repentina que explora como estados mentais podem influenciar mudanças físicas e levar ao afastamento social. A crise existencial da personagem Barbie Estereotipada, interpretada por Margot Robbie, ocorre de maneira inesperada e deixa um impacto profundo.
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Comparação entre Barbie e Matrix
Barbie e Neo, personagem interpretado por Keanu Reeves em “Matrix”, compartilham uma visão de mundo que transcende a compreensão daqueles ao seu redor. Se Woody e seus amigos sabiam que eram brinquedos, o mesmo não acontece com as outras bonecas. Neo sente que algo está errado, mas não tem certeza do que é a Matrix ou como acessá-la, enquanto a Barbie Estereotipada, sabia que alguém estava brincando com ela e que precisava intervir. A capacidade de perceber os fios que manipulam nossas ações é diferente de entender as intenções por trás dessas manipulações.
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Se Neo foi procurado para fugir da Matrix, a Barbie sabia quem poderia a levar até a criança que brincava com ela. Isso demonstra o quanto a boneca estava ciente de seu papel no mundo de Barbieland e o quanto estava disposta a enfrentar a realidade que a envolvia. Além disso, a Barbie enfrentou um mundo invertido, o oposto do que Neo faria, já que ele saiu de uma guerra virtual na Matrix para lutar em um mundo real. No entanto, ambos conseguiram aplicar seus “poderes e habilidades” em situações onde esses poderes pareciam impossíveis.
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Da superficialidade à transformação
Uma vez que tanto Neo quanto Barbie saem de suas respectivas realidades e desejam retornar, percebem que não há mais como voltar atrás e são arrastados para um mundo de dor e tristeza. No entanto, Neo conhece o que está enfrentando, pois é um hacker/programador e compreende como o inimigo age. Ele só precisa aprender como usar as mesmas regras que o inimigo usa. Já para a Barbie Estereotipada, o desafio é ainda maior, pois ela deve abandonar sua antiga imagem e assumir um novo papel.
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A batalha interna que a boneca enfrenta é visível apenas por meio de suas lágrimas. Enquanto Neo aprende a lutar contra inimigos enquanto é reprogramado, a Barbie enfrenta esse desafio sozinha, sem uma espécie de “Dozer” para carregar arquivos. Portanto, a mensagem do filme é mais profunda. Ao confrontar a si mesma, a Barbie adquire a capacidade de mudar o mundo ao seu redor, muito mais do que Neo conseguiu, quase como um profeta usando rosa, que precisou “matar” sua forma de encarar a vida para renascer, como uma mulher real, mas que ao invés que criar uma religação com seu público, acabou por romper grande parte dele ao se realizar.
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