Tóquio – O Golden Week, feriado prolongado entre o fim de abril e início de maio, finalmente acabou. E no primeiro dia em que a vida volta ao normal, uma ocorrência estranha envolvendo trabalhadores que querem se demitir, chamou a atenção da mídia japonesa.
Segundo uma reportagem da Emissora Fuji, em apenas dois dias, uma empresa que intermedia pedidos de demissão recebeu mais de 240 solicitações. O serviço funciona assim: o trabalhador que quer se demitir e não quer ter que lidar com a empresa e fazer o pedido pessoalmente, contrata essa empresa intermediária.
Um funcionário responsável toma conta da tarefa, coleta os dados do cliente, liga para o chefe e dá a notícia do pedido de demissão. A empresa também cuida dos trâmites para a demissão e o cliente não precisa se incomodar.
Esse tipo de serviço não funciona apenas para evitar um “incômodo” na hora de deixar o emprego. Muitas vezes, quem faz a solicitação é um trabalhador ou trabalhadora que enfrentou problemas graves no ambiente de trabalho, como assédio moral, abuso de poder por parte dos chefes, assédio sexual, bullying e outras questões.
Nestes casos, é desconfortável e problemático chegar no chefe que cometeu abusos para dizer que está se demitindo. Por isso, o serviço acaba com alguma popularidade e recebe solicitações frequentes, principalmente nesta época do ano. Os interessados em trocar de emprego podem deixar tudo na mão de uma terceira pessoa e não precisam mais encarar seus antigos chefes.
Porém, a reportagem relatou que o aumento das demissões após a Golden Week não é por acaso. Nesta época do ano, o Japão comenta muito sobre o chamado “gogatsu-byo”, que significa literamente “doença do mês de maio”. É uma condição de fadiga e mal estar nesta época do ano.
Como muitos trabalhadores jovens inciam suas atividades em empresas novas no mês de abril, maio é o momento em que a dificuldade de se adaptar se torna mais evidente. Há muitos casos de estresse emocional e depois do feriado prolongado de Golden Week, a vontade de retornar ao emprego e continuar tentando é menor.
Um homem que está há 3 anos na mesma empresa comentou sobre isso para a reportagem:
“Foi um feriado longo e agora sinto que é difícil retomar. É doloroso, ainda estou processando o fato de que voltei para a realidade”, comentou.
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Os trabalhadores que usam o serviço
Os funcionário do serviço de demissões ficaram especialmente ocupados entre os dias 7 e 8 de maio, com tantas solicitações de trabalhadores. A empresa se chama “Mo-muri”, o que significa algo como “Não dá mais”.
Com mais de 240 pedidos em dois dias, os funcionários deram início ao trabalho. E com bastante formalidade, eles ligam para a empresa desejada, se apresentam e falam que estão entrando em contato para solicitar a demissão do cliente e querem conversar com o responsável dos Recursos Humanos.
Só no mês de abril, 1.400 pessoas contrataram esse serviço para pedir demissão e entra elas, 200 eram jovens que tinham acabado de terminar a faculdade e entraram na empresa no mesmo mês.
Para utilizar esse serviço, há um sistema de tarifas que varia se o trabalhador é efetivo ou temporário. No caso de trabalhadores efetivos, o custo é de ¥22 mil e os temporários podem ter alguém pedindo demissão por eles por ¥12 mil.
O responsável do serviço, Shinji Tanimoto, revelou as causas da maioria dos pedidos:
“Além das questões de abusos morais ou mesmo sexuais, temos muitos clientes que se depararam com uma situação bem diferente do prometido. O salário oferecido na contratação e as condições da vaga acabam não sendo as mesmas na prática, o que gera uma ansiedade para buscar um novo local de trabalho”, explicou.